Religiosos apontam “omissão”, Frente a deportação de pastores, Deputado promete obstrução
Republicanos não deve endossar
O governo do presidente Jair Bolsonaro vê crescer a ameaça de perder o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus. Foram emitidos alertas de um possível desembarque a partir de pessoas próximas ao bispo Edir Macedo, fundador da igreja, e de congressistas do Republicanos, partido ligado à instituição evangélica.
Nesta 6ª feira (14.mai.2021), o bispo Renato Cardoso, responsável pela Igreja Universal no Brasil e genro de Edir Macedo, criticou diretamente o governo Bolsonaro em entrevista ao Jornal da Record –emissora de Macedo.
Cardoso falou em “decepção” e apontou “omissão” por parte do governo no caso envolvendo conflitos sobre a permanência de pastores da Igreja Universal em Angola.
O pivô do desgaste entre evangélicos da IURD e o governo foi a alegada inação das autoridades brasileiras à ordem de deportação de 34 brasileiros do país africano. A medida foi imposta depois que a instituição religiosa disse ter identificado comportamento impróprio de angolanos e afastado essas pessoas do comando da Igreja Universal do Reino de Deus naquele país africano.
Presente em Angola desde 1992, a Universal afirma que o conflito começou há mais de 1 ano. Não há detalhes sobre a razão exata da expulsão dos agora ex-pastores angolanos, que reagiram e formaram uma dissidência dentro da instituição –visando a forçar a saída dos brasileiros.
“O que mais nos indigna não é o que está acontecendo lá em Angola. É a ausência de autoridades brasileiras para interceder pelos pastores, pelos brasileiros em um país estrangeiro. Até quando o governo brasileiro vai ficar calado, passivo, diante desta situação?”, questionou Cardoso.
Ele lembrou que os religiosos são parcela importante da base de apoio do governo. Desde a campanha eleitoral de 2018, Edir Macedo apoia Bolsonaro.
“[O governo] já deveria estar fazendo cumprir os seus tratados internacionais com a Angola. Esse é o protesto, especialmente do povo cristão, do povo evangélico, do povo católico, que apoiou esse governo, faz parte da base do governo. Mas, agora recebe em troca uma omissão. É muito triste e decepcionante para o povo cristão no Brasil”, declarou Renato Cardoso.
O Jornal da Record publicou reportagem na 6ª feira (14.mai.2021) sobre a chegada de 14 missionários da Universal que foram expulsos de Angola.
Eduardo Bravo, presidente da União Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos, disse ver “requintes de crueldade” por parte do governo angolano e “perseguição religiosa muito grande”. Para ele, “o Itamaraty não está respondendo à altura”.
Em agosto do ano passado, os angolanos determinaram o fechamento de templos da igreja no país. A Universal foi acusada de atos ilegais, entre eles fraude fiscal e exportação ilícita de capitais. A igreja respondeu que recorreria da decisão. Cobrado por lideranças religiosas e por congressistas, Bolsonaro havia enviado, em julho de 2020, carta ao presidente de Angola, João Manuel Lourenço, demonstrando preocupação e solicitando garantias de proteção a membros da Universal e ao patrimônio da igreja no país africano.
Desde a eclosão da crise interna na Universal no país africano, pastores brasileiros e suas famílias estavam em situação incerta em Angola. Aí veio a decisão de deportação nesta semana.
Em nota divulgada na 5ª feira (13.mai.2021), o Ministério das Relações Exteriores afirmou ter convocado o embaixador de Angola “para solicitar esclarecimentos sobre a deportação de nacionais brasileiros no dia 11/05 e os aspectos legais associados ao caso”.
O Itamaraty declarou que “manteve permanente contato com as autoridades angolanas para assegurar a devida proteção consular” dos brasileiros deportados. Segundo o MRE, 9 brasileiros embarcaram ao Brasil na 3ª feira (11.mai) e os demais que não conseguiram embarcar puderam aguardar o embarque em suas residências.
CONGRESSO
O partido Republicanos tem ligações com a Igreja Universal, mas a cúpula da sigla descarta um rompimento com o governo por causa desse caso de Angola. A legenda tem um ministro na gestão Bolsonaro: João Roma, na pasta da Cidadania.
Cerca de 1/3 da bancada de 33 deputados do Republicanos tem proximidade com a Igreja Universal. Poderão adotar tom mais crítico ao governo, mas a atitude será considerada individual e não uma conduta a ser recomendada aos demais filiados à legenda.
A bancada também tem deputados evangélicos de outras denominações, como Marco Feliciano (SP), próximo à Assembleia de Deus.
Na 5ª feira (13.mar.2021), um dos deputados ligados à Universal, Márcio Marinho (Republicanos-BA), discursou no plenário da Câmara contra a forma como o governo brasileiro lida com o caso dos integrantes da igreja em Angola.
“Até agora nós não vimos nenhum comportamento de apoio aos missionários brasileiros por parte desse governo”, disse Marinho.
Ele comparou o caso ao do motorista Robson Nascimento, que estava preso na Rússia por ter entrado no país transportando um remédio controlado para o sogro do jogador Fernando, o Mytedom 10mg (cloridrato de metadona).
“O presidente apareceu do lado dele dizendo que fez todos os contatos diplomáticos para resolver aquele problema. E com a gente, não? Dois pesos e duas medidas”, declarou Marinho. “Lá na Comissão de Relações Exteriores o meu partido, o Republicanos, vai obstruir todas as matérias relacionadas a acordos, tratados entre Brasil e Angola”, disse o deputado. Ele anunciou que renunciaria à presidência do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-Angola.
O deputado Aécio Neves (PSDB-MG), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, enviou nesta 6ª feira (14.mai) ofícios tanto à embaixada de Angola em Brasília quanto ao Itamaraty para ser informado sobre a situação da Igreja Universal no país africano.
Leia a nota completa divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores na última 5ª feira (13.mai):
Na tarde de hoje, o Ministro de Estado das Relações Exteriores convocou o embaixador de Angola para solicitar esclarecimentos sobre a deportação de nacionais brasileiros em 11/05 e os aspectos legais associados ao caso.
Desde que a Embaixada do Brasil em Luanda tomou conhecimento da notificação de deportação dos 34 cidadãos brasileiros, manteve permanente contato com as autoridades angolanas para assegurar a devida proteção consular, que foi prestada em cada ocasião em que foi necessária. Na noite de 11/05, nove dos 34 cidadãos brasileiros embarcaram para o Brasil. O embarque transcorreu com tranquilidade, por meio de apresentação voluntária, e deu-se na presença de dois funcionários consulares brasileiros, que acompanharam o processo ao longo de todo o dia, prestando a plena assistência consular a que fazem jus os cidadãos do nosso país.
A pedido do embaixador do Brasil, foi assegurado aos demais brasileiros, que não conseguiram embarcar na noite de 11/05, o direito de aguardar o embarque em suas residências.
FONTE: PODER 360
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