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A renomada especialista em soft commodities Judith Ganes veio ao Brasil neste mês em busca de uma “grande fotografia” sobre a próxima safra de café no maior produtor e exportador global, e o cenário encontrado indica perdas expressivas que podem chegar a 50% em muitas áreas, disse ela.


Se a prolongada seca permitiu ao país colher uma das safras de melhor qualidade em 2020, por outro lado depauperou os pés de café para o ciclo 2021, conforme alertas de especialistas e entidades ligadas aos produtores feitos há algum tempo.


Mas, “diante de tantas informações conflitantes, decidi vir ao Brasil para ver a situação eu mesma”, afirmou norte-americana por telefone, já de volta ao Panamá após uma expedição técnica de sete dias pelas principais regiões produtoras de arábica de Minas Gerais e São Paulo.


“A maior parte do tempo eu posso dizer que não poderia acreditar no quão ruim estão as lavouras, e vim para o Brasil pensando que poderia ser o oposto”, disse Judith, presidente da JGanes Consulting, à Reuters.


Ela observou que ainda não é possível estimar o tamanho da quebra de safra de arábica do Brasil, cuja colheita começa normalmente só em maio. Mas disse ter visto algumas áreas em situação tão ruim que não produzirão nada.

“Vai ter uma grande quebra, vi áreas com 100% de perdas, 50% de perdas, 30% de perdas”, afirmou a especialista, que atua há 37 anos como consultora.


A safra de café do Brasil em 2020 atingiu um recorde 63 milhões de sacas de 60 kg (considerando arábica e robusta), de acordo com a estatal Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ou quase 70 milhões de sacas, segundo analistas, como a Safras & Mercado –os números do governo sobre café geralmente ficam abaixo dos vistos pelo mercado.


Esse recorde foi possível com um forte aumento da produção de arábica, que esteve no ano de alta produtividade e em 2021 enfrentará o de baixa do ciclo bienal. Mas a seca deverá acentuar a queda pela bienalidade.


Isso porque, segundo a consultora, “foi impossível encontrar a lavoura perfeita” durante sua viagem, que passou por áreas de Varginha (MG) e Três Pontas (MG), além da Mogiana e Cerrado de Minas.


“Achei que estavam exagerando (nos comentários sobre perdas), mas essa propriedade com café em boa condição não existe”, explicou.


De acordo com a especialista, as áreas irrigadas, as podadas no ano passado e aquelas com pés mais novos estão em melhores condições, mas ainda assim terão perdas.


“Notei que as áreas mais novas estão em melhores condições, mas mesmo essas vão sofrer quebras que podem variar de 10% a 30%”, afirmou.


“Mesmo os pés de café de áreas irrigadas parecem estressados, não parecem saudáveis como deveriam estar”, concluiu, após conversar com agrônomos e produtores, que disseram que não houve água suficiente para irrigar as lavouras, devido aos efeitos do tempo seco.


Segundo ela, as áreas irrigadas poderiam ter quebra de potencial produtivo de 10% a 20%.


A consultora relatou ainda que algumas áreas, com floradas em setembro seguidas por um estresse hídrico, que tiveram abortamento de flores e frutos, e que há sinais de que foram “queimadas” pelo calor intenso.


“Na Baixa Mogiana muitas flores caíram, e na Alta Mogiana notei grãos amarelados, amadurecendo antes da hora”, afirmou, ressaltando que esses podem cair antes da colheita. Essa situação também foi vista no Cerrado de Minas Gerais.


Ela disse que se as chuvas continuarem regulares podem amenizar o problema, mas não reverter perdas já registradas. Além disso, condições mais úmidas de agora em diante poderão ser importantes para fortalecer as lavouras para a safra de 2022.


“Seria importante para parar o amadurecimento precoce e o abortamento dos frutos. Mas se vier uma nova onda de calor ou uma verão rigoroso, podemos ter mais problemas.”


Questionada sobre o impacto no mercado global, ela disse que outros fatores podem atuar, como os estoques finais da grande safra do Brasil em 2020, além da produção em outros países e a demanda em tempos de Covid-19.


FONTE: FORBES COM REUTERS

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