Conselho está sem funcionar em razão da pandemia e não há data para retomada. Deputada e cantora gospel é ré na Justiça, acusada de ter mandado matar o marido, o que ela nega.
A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados decidiu nesta quarta-feira (28), por unanimidade, encaminhar para o Conselho de Ética o caso da deputada Flordelis (PSD-RJ). Um eventual processo no conselho, que ainda não está se reunindo devido à pandemia (leia mais ao final da reportagem), pode levar à cassação do mandato da parlamentar.
Flordelis é ré na Justiça, acusada de ter sido a mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo. Ele foi morto a tiros em junho de 2019.
Desde o início das investigações, Flordelis nega as acusações do Ministério Público e afirma ser alvo de "perseguição".
Por ter imunidade parlamentar, a deputada segue em liberdade, mas, desde o dia 8, tem sido monitorada por uma tornozeleira eletrônica. Foram quase três semanas entre a ordem da Justiça para monitorá-la e a instalação do equipamento.
Relatório aprovado
A reunião da Mesa Diretora aconteceu na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O encontro estava previsto para terça (27), mas foi adiado para esta quarta.
Os integrantes da Mesa Diretora aprovaram o relatório do corregedor da Câmara, Paulo Bengtson (PTB-BA), que recomendou o prosseguimento do caso ao Conselho de Ética.
No relatório, Bengtson afirmou que os fatos descritos na representação feita à Câmara pelo deputado Léo Motta (PSL-MG), em agosto, e no inquérito policial, "constituem indícios suficientes de irregularidades ou de infrações às normas de decoro e ética parlamentar".
"O relatório foi aprovado de forma unânime e será encaminhado o caso da deputada Flordelis para a comissão de ética que, segundo o presidente, será encaminhada e retomada na próxima semana”, afirmou o corregedor da Câmara.
De acordo com Bengtson, os deputados costuram uma acordo para aprovar um projeto de resolução no plenário e permitir o trabalho do Conselho de Ética de forma remota.
O relatório foi aprovado por 5 votos a 0. Participaram o presidente Rodrigo Maia, o segundo secretário Mario Heringer (PDT-MG), o segundo vice-presidente Luciano Bivar (PSL- PÉ) , a primeira secretaria Soraya Santos (PL-RJ) e o quarto secretário André Fufuca (PP-MA).
Conselho de Ética sem funcionar
Apesar da decisão desta quarta-feira a favor do prosseguimento do processo de Flordelis, o caso não será retomado imediatamente. Isso porque o Conselho de Ética está fechado em razão da pandemia do novo coronavírus.
O funcionamento depende da aprovação pelo plenário principal da Câmara de um projeto de resolução. Até agora, porém, não há uma definição para essa votação.
Família envolvida no crime
O Ministério Público do Rio de Janeiro afirma que a deputada mandou matar Anderson do Carmo porque o pastor mantinha controle rigoroso sobre as finanças da família. O promotor Sérgio Luiz Lopes Pereira afirmou ainda que a deputada teria dito a um dos filhos que não poderia se separar de Anderson para "não escandalizar o nome de Deus".
As investigações apontaram que, além da deputada, outras dez pessoas teriam participado do crime, entre as quais sete filhos e uma neta do casal, além de um ex-policial militar e a mulher desse ex-policial.
Anderson do Carmo já havia sido vítima de tentativas de envenenamento. Por seis vezes, entre maio e outubro de 2018, o pastor buscou atendimento em um hospital particular de Niterói.
A morte do pastor
Anderson do Carmo foi morto com mais de 30 tiros em 16 de junho de 2019. Horas depois do crime, Flordelis disse que o marido havia morrido em um assalto.
No dia seguinte, um dos filhos biológicos de deputada, Flávio dos Santos, foi preso no velório do padrasto. A polícia disse então que havia um mandado de prisão contra ele por violência doméstica.
Horas depois, Lucas dos Santos Souza, filho adotivo do casal, também foi preso acusado de ter comprado a pistola usada no crime, por R$ 8 mil. Flordelis e dois de seus filhos também são acusados de tentar enganar os investigadores.
Em uma carta, Lucas confessou ter feito os disparos a mando de outros dois filhos do casal, Wagner Andrade Pimenta e Alexsander Felipe Matos Mendes.
Mas, de acordo com os promotores, ele teria sido instruído por Flordelis e Flávio a redigir a confissão para inocentá-los. O objetivo também seria se vingar de Wagner e Alexsander, porque eles não teriam aceito se calar ou mentir nos depoimentos à polícia.
Orgias e privilégios
Segundo um depoimento obtido pelo Fantástico, a parlamentar teria oferecido uma filha para pastores estrangeiros.
As testemunhas relatam também relações sexuais entre Anderson e uma filha afetiva, além de idas a "casas de swing". Segundo a denúncia, há uma "completa dissociação entre a imagem construída e as práticas do grupo familiar".
Uma pessoa que morou na casa de Flordelis também afirmou que ela e Anderson mantinham relações sexuais com filhos e filhas. Na ocasião, a defesa da deputada não se manifestou sobre o caso.
Segundo as investigações do caso, Flordelis prometeu a um filho uma viagem aos Estados Unidos, desde que ele desistisse de depor contra a parlamentar.
Outro filho de Flordelis, ainda segundo os investigadores, recebeu a promessa de regalias na cadeia, caso assumisse ter assassinado o pastor Anderson do Carmo por vontade própria, sem mandantes.