A campanha antecipada pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro em 2022 saiu das redes sociais para as estradas e ruas do País. Num tom eleitoreiro, entidades ruralistas e empresariais instalaram outdoors com a foto do presidente e mensagens de incentivo nas margens das rodovias que interligam a Amazônia, o Centro-Oeste e o Nordeste.
Nas últimas semanas, o Estadão percorreu 2,4 mil quilômetros por rodovias federais e estaduais e identificou uma intensa campanha política de cunho personalista a favor do presidente, em pelo menos sete Estados (Bahia, Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Goiás e Tocantins) e no Distrito Federal. A estratégia de recorrer a grandes painéis publicitários foi usada na campanha de Bolsonaro em 2018 por grupos de direita e clubes de tiro.
A foto oficial com a faixa presidencial é uma das que mais se repetem nos painéis, em geral sobre fundo de tons em verde, amarelo e azul, com frases como: “Supremo é o povo”; “Por Deus, pela família, por quem produz”; “#fechadoscombolsonaro”; “Democracia começa respeitando o resultado das urnas”.
Em Guaraí (TO), 30 fazendeiros decidiram contribuir, com R$ 1,1 mil cada, para espalhar outdoors pelas cidades de Pedro Afonso, Colméia e Colinas. Com comerciantes que vendem insumos agrícolas, conseguiram instalar dez painéis. Queriam demonstrar que Bolsonaro estava certo em seu discurso a favor da normalização de atividades econômicas na pandemia do novo coronavírus. “Já pensou se nós agricultores não tivéssemos trabalhado, o que íamos comer hoje? Teria um prato de arroz, um boi gordo para matar e comer?”, questiona o pecuarista Adriano Fonseca.
O apoio a Bolsonaro no Estado teve incentivo do presidente da Federação da Agricultura do Tocantins (Faet), Paulo Carneiro, confidenciou Fonseca. Carneiro é aliado político da senadora Kátia Abreu (PP-TO) e filiado ao PSD, partido do Centrão com ministro no primeiro escalão de Bolsonaro, Fabio Faria, das Comunicações. O Estadão telefonou para Carneiro, mas ele não atendeu nem retornou mensagens de contato.
“O agro está com você”, diz um letreiro na BR-163 em Alto Horizonte (GO), numa mensagem ao presidente. Quem assina é o Sindicato Rural de Campinorte, Alto Horizonte e Nova Iguaçu de Goiás. Washington Luiz de Paula, presidente da entidade, disse que a peça é apenas uma das espalhadas pelas cidades. Os custos variaram entre R$ 600 e R$ 3 mil – depende do local, dos gastos com impressão e até de aluguel do espaço.
Quem bancou foram cerca de 40 produtores rurais. De Paula diz que não houve coordenação em âmbito estadual e nem uma ligação direta com partidos. Segundo ele, participaram desde cooperativas de agricultores a pequenos e médios produtores. Em outras cidades, grandes produtores entraram na vaquinha. “Entendemos que o agro precisa se manifestar nesse momento em apoio”, afirma. “Não fomos os pioneiros. Vimos pelo WhatsApp que iam fazer isso em Jataí, Rio Verde e Morrinhos. Há uma corrente bem coesa e com facilidade de desenvolver ações coordenadas.”
O presidente do Sindicato Rural de Santana do Araguaia (PA), André Felipe Klein, compara Bolsonaro ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao explicar o outdoor instalado por produtores de grãos e pecuaristas. “Ele (Bolsonaro) andou de trator, tem jeito de tiozão. Tem o jeitão do produtor, a gente se identifica com ele”, afirma. “É o que o Lula fazia também, carismático. Às vezes ele fala demais, exagera no tom e nas palavras, mas tem que ser meio duro mesmo, tem coisa que tem que ser dita.”
A prática de promover vaquinhas virtuais para bancar as mensagens de apoio continua. Sites para arrecadar doações estão repletos de modelos de outdoors – alguns também contra o presidente, como os que foram colocados em Palmas (TO).
Na entrada de Goiânia (GO), à margem da BR-153, há painéis instalados por empresários do grupo Instituto Brasil 200. Já em Brasília, na via L4, na região central, os rostos de Bolsonaro e do vice-presidente Hamilton Mourão, nome incerto numa futura chapa em 2022, estampam um outdoor instalado por agricultores e pecuaristas do Pará.
Legislação
A depender da forma, a promoção de políticos antes de eleições pode cair num limbo jurídico. Embora ministros do Tribunal Superior Eleitoral já tenham discutido nos bastidores um endurecimento, as regras vigentes exigem pedido explícito de voto para enquadrar condutas na chamada propaganda eleitoral antecipada. Esse é o entendimento dominante entre juristas e membros do Ministério Público, que fiscalizam a divulgação de pretensas candidaturas e a exaltação de qualidades de pré-candidato, alguém com intenção de concorrer, como é o caso de Bolsonaro.
Para o advogado e ex-ministro do TSE Henrique Neves, a falta de pedido de voto e da menção a 2022 pode livrar de punição os responsáveis pelos outdoors. “Ainda faltam dois anos. Acho difícil”, disse.
A Secretaria Especial da Comunicação Social afirmou que os questionamentos deveriam ser feitos a sindicatos. “O governo não tem gerência sobre esses gestos das entidades de classe”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.