Pós negociações tensas, valor foi fixado em “apenas” R$ 1,5 milhão
Em análise das informações que conseguiu apurar sobre a prisão de quatro prefeitos em Rondônia, em ação da Polícia Federal contra um esquema de corrupção envolvendo o pagamento de propinas aos mandatários, o FOLHA DO SUL ON LINE destaca hoje as acusações que pesam contra a gestora do município de São Francisco do Guaporé, Gislaine Lebrinha (MDB). O pai da prefeita, reeleita com mais de 82% dos votos, deputado estadual José “Lebrão”, também do MDB, ele próprio o mais votado em 2016, foi filmado recebendo o que seria uma propina destinada a ela (VEJA AQUI). De acordo com as investigações, após montar um consórcio de municípios que lidaria com a questão ambiental, a entidade chegou a instalar um aterro sanitário na cidade de Novo Horizonte, na Zona da Mata de Rondônia, mas o empreendimento era cheio de falhas, por isso não conseguia tratar e dar destinação correta aos resíduos enviados pelas respectivas cidades. Lebrinha, que presidia o consórcio, resolveu encerrar o contrato da entidade, que reúne mais de 40 municípios e buscar uma nova empresa para executar o serviço. E foi aí que começaram as negociações com a empresa vilhenense. Numa reunião marcada pela filha, em um restaurante de Cacoal, Lebrão já chegou apresentando a conta ao empresário que, depois, se tornaria delator do esquema: exigiu R$ 2 milhões, divididos em 20 parcelas de R$ 100 mil. Diante do espanto do empresário, ele explicou que sua firma ganharia muito dinheiro. Numa conversa tensa, o valor inicial, que seria usado na campanha da prefeita para deputada federal em 2022, teria sido reduzido para “apenas” R$ 1,5 milhão, mas o valor das parcelas foi mantido: 15 de R$ 100 mil. No dia do pagamento da primeira “prestação” do acordo, em fevereiro, o empresário alegou que, por ser um valor muito alto, não havia conseguido juntar os R$ 100 mil. Depois de muita discussão, fica combinado que o dinheiro será entregue dentro de um hotel em São Francisco do Guaporé, cujo dono é irmão da prefeita. Esperta, a mandatária evita o estabelecimento e convida o delator para um passeio em seu carro. Como o empresário está gravando a conversa em áudio, Lebrinha explica que no hotel tem câmeras, ao que o interlocutor reage: “tô ficando velho e burro”. Gislaine responde: “tá nada”. E os R$ 40 mil são pagos dentro do veículo. A segunda parcela é paga no aterro sanitário do denunciante em Ji-Paraná. A emedebista chega numa picape oficial da prefeitura de São Francisco do Guaporé, recebe o dinheiro e, antes de ir embora, avisa o empresário para não comentar com ninguém que ela esteve ali. Diante de todos as provas, a PF então decide pedir a prisão da prefeita, o que acabou sendo determinado pelo desembargador Roosevelt Queiroz Costa, do Tribunal de Justiça de Rondônia. Junto com ela, os demais envolvidos no mesmo esquema em suas respectivas cidades também são presos. LEBRÃO “SE ENTREGA” No início das investigações, a PF chegou a cogitar que o deputado José “Lebrão” fosse apenas um representante da filha no esquema, mas em duas ocasiões, quando ele acompanhou o recebimento da propina, em 28 de maio e 02 de julho, ficou caracterizada sua participação ativa no crime. Em um encontro na sede da empresa do delator, em Ji-Paraná, Lebrão chega de bermuda e numa caminhonete que, segundo apurou a PF, pertence à Frota da Assembléia Legislativa de Rondônia. Depois de receber mais uma “mensalidade” de R$ 40 mil, o parlamentar guarda os maços de dinheiro numa sacola plástica, cena captada pelas imagens instaladas no escritório onde aconteceu o encontro. Todas as notas entregues foram digitalizadas pela PF antes da reunião dele com o empresário vilhenense, para que pudessem rastreadas depois. A prisão do deputado chegou a ser pedida, mas o TJ negou. Depois das buscas, viu-se que parte do dinheiro apreendido no forro da casa de Lebrinha coincidia com as cédulas digitalizadas na PF antes das entregas pelo empresário.