Escolhas partem apenas da nova comissão técnica, sem ouvir até o departamento médico do clube
No mata-mata da Libertadores-2019, o Flamengo de Jorge Jesus enfrentou Internacional e Grêmio. Contra o primeiro adversário, pelas quartas de final, divulgou uma lista de relacionados sem Gabigol, mas o atacante foi para o jogo. Diante do tricolor gaúcho, na semifinal, Arrascaeta chegou a ser descartado após lesão no joelho, mas atuou na partida de volta no Maracanã, vencida por 5 a 0.
Em comum, uma regra considerada de ouro que o novo treinador, Domènec Torrent, não deu continuidade, o que tem deixado alguns atletas contrariados – entre eles a dupla citada. A opinião dos jogadores vinha sendo soberana para as decisões sobre escalação e rodízio. Não é mais assim.
Foi exatamente o que aconteceu antes do jogo com o Fortaleza. Sem lesão no tornozelo, Gabigol treinou normalmente e informou ao treinador e sua comissão que estava bem para jogar. O artilheiro chegou a se dizer preparado em suas redes sociais. Era o suficiente para entrar em campo nos tempos do comando português.
Com o espanhol Domènec Torrent, porém, apenas ele e seus auxiliares decidem a escalação. E se baseiam nas próprias impressões sobre o desempenho dos jogadores para preservá-los por questoes físicas. Nem o Centro de Excelência em Performance do Flamengo tem peso nas decisões. Os profissionais do departamento médico do clube não influenciam no rodízio e na escolha de quem será sacado. Apenas situações em que os atletas se queixam de algo mais grave são repassadas para a comissão técnica de Dome.
Caso o atleta relate que está se sentindo bem e não haja indício de nenhum problema, os médicos se isentam de alguma indicação. E o treinador decide o que fazer. Ao lado dos auxiliares Jordi Guerrero, Jordi Gris e do preparador físico Julián Jimenez.
Prevenção de lesões
Desde que o CEP Fla se estruturou com um plano de prevenção de lesões, entre 2016 e 2017, as interferências nas decisões da comissão técnica têm sido cada vez menores. Começou a diminuir com o técnico Reinaldo Rueda. Com Jorge Jesus, o conceito de poupar jogadores caiu por terra de vez. As decisões eram baseadas no que os atletas diziam para o treinador. Houve mais de uma vez em que os exames apontavam lesão, mas os jogadores se sentiam bem e iam para os jogos.
Os resultados de 2019 deram ainda mais força para a decisão soberana do técnico e de sua comissão. Mas agora elas partem de uma premissa diferente, em que a participação do jogador não conta a mesma coisa. O rodízio implementado por Dome também não veio apenas pela análise do clube do cenário de jogos desgastante. Foi o próprio técnico quem avaliou o calendário e determinou a implementação de tal filosofia, que até agora deu resultados.
Há seis jogos sem perder, o Flamengo se tornou competitivo, sem dúvida. Mas nesse período acumula quatro lesões musculares. Duas graves, de Pedro Rocha e João Lucas, e duas leves, de Gabigol e Rodrigo Caio. Ou seja, mesmo rodando o elenco e descansando alguns jogadores, as perdas têm sido inevitáveis.
Outro aspecto que dificulta que o trabalho de Dome seja melhor aceito internamente é que o rodízio não permite que os poucos dias de treinamento sejam aproveitados. Como troca o time em todos os jogos, é só ali que aquela formação é treinada. O que atrasa ainda mais a absorção das ideias de jogo de forma individual e coletiva.
O elenco do Flamengo tem se mostrado aberto aos novos conceitos, mas as conversas com a comissão técnica ainda não abordaram claramente essa diferença na forma como a opinião dos atletas é levada em consideração. Dome logo que chegou propôs uma reunião e ouviu sugestões sobre os métodos de treinamento. Talvez esteja na hora de outro bate-papo.