Entidades como a CBF e a Federação Paulista têm exigido dos médicos dos clubes a realização de exames periódicos em atletas que contraíram a doença
Nos últimos meses, a cada dia são noticiados dezenas de casos de jogadores de futebol cujos testes deram positivo para a covid-19. Neymar foi a vítima mais recente, como noticiado na última quarta-feira (2). Praticamente todos os atletas superam a doença sem muitos transtornos. A idade, afinal, está bem abaixo da do grupo de risco. E a boa condição física mantém a imunidade alta.
Após a doença, porém, ainda podem ficar sequelas e os clubes precisam continuar a monitorar seus jogadores, conforme ressalta o dr. Moisés Cohen, responsável pelo setor médico da Federação Paulista de Futebol.
"A Federação Paulista tem dado essa orientação aos clubes e cobrado os médicos. O mais importante é o exame clínico bem feito, não só pulmonar, como também cardiológico. O vírus pode afetar o coração e isso vale para todas as pessoas. Pode evitar, por exemplo, a ocorrência de uma morte súbita. Em relação aos jogadores, esse cuidado também é necessário, já que eles atuam em um esporte de alto rendimento e o coronavírus pode acometer o músculo cardíaco", afirmou.
Seguindo os novos protocolos, que já se modificaram em função de um maior conhecimento sobre a doença, a quarentena tem durado cerca de dez dias. Tal número era impensável até poucos meses atrás quando ter o resultado positivo do teste implicava necessariamente estar com a doença.
Hoje tal tese já não está mais em voga. Isso causou certo alarmismo quando, por exemplo, o Atlético-GO obteve, na primeira rodada deste Brasileiro, permissão para que quatro jogadores com resultados positivos no PCR pudessem atuar. O argumento era de que, seguindo as novas diretrizes, já não havia neles o potencial de transmissão.
A CBF também tem realçado a necessidade de os clubes realizarem um acompanhamento pós-covid, segundo o infectologista Carlos Starling, um dos assessores do departamento médico da entidade, responsável pela análise e controle da doença.
"Isso é uma exigência do departamento médico. O jogador que contrai a doença é observado e, depois que se recupera, é acompanhado pelo médico do clube, para evitar sequelas da doença", ressalta.
Estudo dos médicos William J. Brady, Alex Koyfman e Michael Gottlieb, da Faculdade de Medicina da Universidade da Virgínia, EUA, ressalta a possibilidade de a doença trazer problemas cardiovasculares. O trabalho foi publicado no American Journal of Emergency Medicine.
"Covid-19 pode resultar em inflamação sistêmica, disfunção de múltiplos órgãos e doença crítica. O sistema cardiovascular também é afetado, com complicações incluindo lesão miocárdica, miocardite, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, disritmias e eventos tromboembólicos venosos".
Testes positivos
Cohen ressalta que quando um exame de PCR der positivo, o protocolo é deixar o jogador em quarentena. Passado esse período, outros testes poderão dar positivos, mas ele estará livre da doença em si, apesar de o vírus ainda estar presente.
"O resultado positivo do PCR, em si, não quer dizer que o organismo tenha a doença. É apenas um retrato do momento do atleta. Depois do primeiro resultado positivo, não é necessário repetir o teste, apenas deve ser cumprido o prazo do isolamento e depois o jogador pode ser liberado", ressalta.
Starling conta que mais de 7 mil atletas no Brasil já foram testados. E que, neste sentido, o futebol tem sido uma referência em termos de protocolo. O ideal, segundo ele, era que a sociedade como um todo também fosse submetida a testes períodicos.
"Nenhuma categoria profissional faz tantos testes como no futebol. Viajar de avião ao lado de um jogador é uma das situações mais confiáveis neste momento, em relação à doença. Quando o vírus é detectado, o jogador se isola, assim como pessoas próximas. É uma situação que serve de exemplo do que deve ser feito como um todo", ressalta.