Em SP, partidos abolem encontros presenciais por causa da Covid; no Rio, diretórios avaliam modelo híbrido
Depois de levar ao adiamento das eleições municipais deste ano, a pandemia da Covid-19 instala, a partir da semana que vem, um “novo normal” na corrida dos partidos políticos até a votação. Com o isolamento social e outras medidas necessárias para conter o contágio, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizou, em julho, que as convenções partidárias sejam realizadas virtualmente, o que acontecerá a partir de segunda-feira em capitais como Rio e São Paulo.
Nas duas cidades, ao menos 12 legendas vão optar por reuniões virtuais com o objetivo de oficializar suas candidaturas. Nas últimas duas semanas, as convenções dos partidos Democrata e Republicano, nos Estados Unidos, país com maior número de mortos na pandemia, contrastaram nos cuidados com o coronavírus. Os democratas ungiram Joe Biden numa reunião majoritariamente virtual, com a presença de poucos delegados junto ao candidato. Já Donald Trump lançou-se à reeleição provocando aglomeração no jardim da Casa Branca.
No Brasil, as convenções podem ser realizadas até 16 de setembro, conforme o calendário da Justiça Eleitoral. O presidente da Comissão Nacional de Direito Eleitoral da OAB, Eduardo Damian, considera que, apesar de serem uma opção do partido, as convenções virtuais são recomendáveis para evitar aglomerações.
— Os partidos precisam ter consciência e cautela, (encontros presenciais) podem depois ter notícia de que ali foi um foco de propagação do vírus — afirmou.
Diferentes formatos
Nos encontros, os filiados autorizados a votar, chamados “convencionários”, deliberam sobre os nomes que irão compor a chapa ou que serão apoiados pelo partido. Em seguida, como em outros anos, as siglas lançam a ata da convenção no sistema da Justiça Eleitoral. Algumas legendas, como o partido Novo, contrataram empresas para operar a virtualização do processo.
— O voto será sigiloso, como determina o TRE. Em uma das salas de Zoom será a recepção, com os discursos. Na outra sala, que terá um link individual, com senha, e entrarão apenas os aptos a votar — disse Rodrigo Rezende, presidente do diretório municipal do Novo.
O PSDB também criou uma dinâmica para realizar convenções na internet, através de um portal disponibilizado pela executiva nacional aos filiados. Fizeram opções semelhantes, no ambiente digital, PSOL, PSL, PT, PSD, PRTB, Patriota e PCdoB.
Entre os que optaram por manter a tradição das convenções exclusivamente presenciais, há promessa de redobrar os cuidados. Entre eles, está o PL e o PSC, que só permitirá a presença dos pré-candidatos à prefeitura do Rio Glória Heloiza e Otoni de Paula, bem como os pré-candidatos a vereadores e os convencionais com direito a voto. O PTB já tem data e hora marcada para o encontro, mas segue em busca de um lugar em que seja possível garantir a segurança dos participantes.
— Segurança sanitária é a prioridade, estamos vendo o melhor lugar para isso. Mas vamos limitar o número de pessoas, colocar álcool em gel, máscara, higienizador de sapato, distanciamento, vamos ter empresa especializada para isso — conta Cristiane Brasil, deputada federal e pré-candidata à prefeita do Rio pelo partido.
Pré-campanha diferente
Assim como as convenções, eventos realizados no período de pré-campanha, antes realizados corpo a corpo, foram transformados em lives e videochamadas, como mais um efeito da pandemia. Apesar da falta do contato físico, pré-candidatos ouvidos pelo GLOBO relatam que estão se adaptando positivamente ao meio digital.
Martha Rocha, pré-candidata pelo PDT à prefeitura do Rio, destaca que sua ausência nas ruas foi uma opção pessoal pelo "respeito aos eleitores". Entre lives, podcasts, encontros populares e reuniões com a equipe de campanha, ela pontua que sente falta da proximidade, mas que se acostumou com o formato depois de um tempo.
— Quero respeitar as pessoas, ainda não estamos em um momento bom. Estamos em flexibilização, mas as mortes estão altas e a contaminação é uma realidade. Eu não me sinto autorizada a fazer alguém me ouvir presencialmente. Como todo carioca, gosto de estar junto, da proximidade, de apertar a mão. No início eu achava difícil, achava que era distante falar olhando para uma câmera, mas em acostumei e hoje acho que trabalho até mais.
Eduardo Bandeira de Mello, pré-candidato pela Rede em coalizão com o PDT de Martha e o PSB, já consegue ver vantagens na vida digital, como a economia de tempo. No entanto, ele destaca que o alcance, por vezes, é reduzido.
— Fiz tudo online e acho que hoje não conseguiria fazer boa parte do que fiz se estivesse encontrando presencialmente. A gente fala pra um grupo mais reduzido. Antes, eram 100 ou 200 pessoas, mas é difícil colocar isso numa sala do Zoom. Por outro lado, você ganha tempo, faz mais reuniões, não perde tempo com deslocamentos e atrasos — pondera.
Clarissa Garotinho, pré candidata à prefeita do Rio pelo PROS, acredita que, em contrapartida às limitações, as lives têm gerado engajamento significativo.
— Fiz uma live que tinham 900 pessoas ao vivo me vendo. Depois, esse conteúdo ainda fica disponível. É um alcance muito grande, embora a gente perca no afetivo. Mas não tive dificuldade de me adaptar. Não consigo ver as pessoas na rua pegando folheto, conversando, tirando foto. Infelizmente, uma parcela do eleitorado ainda não tem acesso à internet, computador, mas podemos sim alcançar mais pessoas nas redes.
Benedita da Silva, do PT, relata estar sentindo saudades das ruas, mas também pretende evitar aglomerações. A ideia da deputada federal e pré-candidata é deixar sua casa, na capital fluminense, apenas para agendas seguras e pré-programadas. No isolamento, ela tem superado o desafio de se habituar à nova rotina sem a ajuda presencial da equipe e de familiares.
— Não tinha feito nada disso antes, com toda franqueza. Sem as pessoas por perto, foi preciso me readaptar. Meus netos ainda me ajudam bastante: eles acompanham as novidades e eu me esforço para acompanhá-los. Estou me virando nos trinta e tem funcionado: construí uma rotina digital intensa — afirma a petista.
O PSD no Rio lançou um curso de campanhas digitais, cujo objetivo é, segundo a legenda, orientar os candidatos sobre a "importância do bom uso das redes sociais numa campanha, a boa importância da boa comunicação". O curso apresenta os meios digitais que podem ser utilizadas e a legislação eleitoral sobre o tema.