Derrota do governo entre senadores, revertida pela Câmara, expõe fissura na articulação política e aumenta dependência a Maia e líderes do bloco, articulado por deputados
A derrubada de um importante veto presidencial por uma diferença de apenas 2 votos no senado, esta semana, alertou o governo para um cenário de fragilidade de sua base política na Casa, ao contrário do que acontece atualmente na Câmara. A permissão dos senadores a reajustes ao funcionalismo, no auge da polêmica sobre cortes de gastos, só foi barrada pelos deputados após empenho pessoal do presidente Rodrigo Maia (DEM/RJ) e articulação dos líderes do Centrão, que agiram em socorro ao Planalto.
“O Senado tem uma dinâmica completamente diferente [da Câmara]” - diz um dos aliados do governo, que vê mais autonomia entre seus pares. “Cada senador é uma ilha” - ironiza. Ali, os parlamentares estariam mais orientados por interesses diretos de suas bases estaduais e menos permeáveis ao comando de líderes - clássico método de ação dos deputados. O Planalto identificou o problema: o acordo com o Centrão - um bloco partidário originado na Câmara - não garante apoio no senado.
O episódio ainda deixou sequelas, com desgaste para o ministro da Economia. Atordoado com a derrota, Paulo Guedes declarou que o que os senadores tinham feito era “um crime” contra o país. A exaltação irritou inclusive aliados.
Nesta sexta, mesmo após a correção de rumos dada à questão pela Câmara, senadores fizeram chegar ao Planalto um sinal claro de que este tom não será aceito e “denota que o ministro não compreende as regras do jogo democrático”. Um deles se lembrou que, ao justificar suas dificuldades como negociador político, ainda nos primeiros meses de governo, o próprio Guedes se definiu, durante audiência pública no Congresso, como “animal de combate”.