Exército informa que tem estoque de quase 1 milhão de comprimidos; gastos dessa produção chegaram a R$ 1,137 milhão, segundo os militares
O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou na última quinta-feira, 13, que o governo federal não conseguiu atender "nem 50%" da demanda por cloroquina feita por Estados e municípios. O medicamento tem sido usado no tratamento contra a covid-19, com defesa intensa pelo presidente Jair Bolsonaro, mesmo sem comprovação científica da sua eficácia. O Exército, no entanto, maior aliado do governo na produção dos comprimidos de cloroquina, afirmou ao Estadão na segunda-feira, 17, que possui hoje quase 1 milhão de comprimidos em seus estoques e que, desde julho, não recebeu nenhuma nova demanda para produção do remédio. Essa produção é feita após o Exército receber pedidos pelos Estados e municípios.
"Coloco de uma forma bem clara que nós atendemos demandas, nós não distribuímos sem demanda, e alerto que nós não conseguimos atender nem 50% do que nos demandam", disse Pazuello, durante participação em audiência pública no Congresso, no dia 13, à comissão que acompanha a situação da pandemia do coronavírus. O ministro interino ainda acrescentou: "Nosso estoque hoje, no Ministério da Saúde, é zero. Não temos nem um comprimido para atender as demandas. Nós temos uma reserva de 300 mil itens, apenas para atender malária, guardada, o que representa algo em torno de 20% do que eu preciso por ano. Temos uma demanda reprimida hoje de mais de 1,6 milhão de doses para Estados e municípios, só hoje".
Antes dessas declarações de Pazuello, o Estadão já havia questionado o Exército sobre detalhes de sua produção, que é realizada por seu Laboratório Químico Farmacêutico (LQFEx). As respostas chegaram na última segunda-feira. Perguntado se o laboratório tem disponibilidade de estoque do medicamento, o Exército informou que "possui atualmente um estoque de 922.880 comprimidos de Cloroquina 150mg".
A respeito de sua produção de comprimidos de cloroquina, o órgão informou que "houve a produção no LQFEx até julho de 2020" e que "no momento, não há novas demandas produtivas".
O Estadão enviou essas informações ao Ministério da Saúde, para esclarecer os motivos das contradições. Por meio de nota, Ministério da Saúde informou que "a pasta não possui estoque de difosfato de cloroquina, uma vez que o medicamento foi distribuído de acordo com os pedidos e planejamento prévio do Ministério da Saúde".
O ministério afirmou que, neste ano, atendendo solicitações de estados e municípios, enviou 5.284.700 unidades de difosfato de cloroquina 150 mg para todo o País. Paralelamente, declarou que recebeu doação de 3 milhões de unidades de sulfato de hidroxicloroquina, em frascos de 100 e 500 comprimidos. "O medicamento deve ser enviado nas próximas semanas aos Estados e municípios que solicitarem à pasta e apresentarem condições de fracionar e distribuir as unidades, conforme orientações da Anvisa".
O Ministério da Saúde informou ainda que "permanece em constante avaliação da possibilidade de produção e aquisição de ambos medicamentos", referindo-se à cloroquina e hidroxicloroquina.
Segundo Exército, seu laboratório produziu aproximadamente 3 milhões de comprimidos de cloroquina 150mg, desde que a operação foi anunciada pelo governo. A produção teve por objetivo atender as demandas do Ministério da Saúde e Ministério da Defesa
Os gastos dessa produção chegaram, até o momento, a R$ 1,137 milhão, segundo o Exército. A capacidade de produção do laboratório, que é de 1 milhão de comprimidos semanais, não foi ampliada. Após a última etapa de produção do medicamento, no início de junho de 2020, esgotaram-se os estoques para produção pelos militares.