Opositores criticaram a “política negacionista” de Bolsonaro; mas governistas listaram ações adotadas pelo presidente para combater a pandemia
Diversos deputados lamentaram ao longo do fim de semana as mais de 100 mil mortes por Covid-19 no Brasil. Nesta segunda-feira (10), segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa com base em dados das secretarias estaduais de Saúde, já são 101.142 mortes.
Os líderes da Oposição, André Figueiredo (PDT-CE), e da Minoria, José Guimarães (PT-CE), lamentaram as mortes, acusaram o presidente Jair Bolsonaro de ser omisso e de minimizar a gravidade da doença, e se solidarizaram com as famílias que perderam parentes na luta contra o coronavírus.
"Bolsonaro desdenha da vida, da dor de 100 mil famílias, e do povo brasileiro. Com sua política negacionista, coloca o Brasil entre os países com mais óbitos pela Covid-19. É o caos social, humano, econômico, sanitário”, criticou Figueiredo.
O líder da Oposição disse ainda que Bolsonaro será condenado pela justiça brasileira e por órgãos internacionais. “Bolsonaro vai terminar sua vida política na cadeia. É vergonhoso ter um presidente que não se solidarize com as mais de 100 mil famílias enlutadas e não tenha responsabilidade de fazer com que o povo não sofresse tanto”, acrescentou.
Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Figueiredo, da Oposição: política negacionista do governo colocou o Brasil entre países com mais óbitos
Segundo o líder da Minoria, a América Latina passou a liderar o número de casos da doença no mundo “puxada pelo Brasil”. “Contando com o Caribe, a região já responde por 4,34 milhões de infectados, à frente da América do Norte, que registra 4,23 milhões de casos”, comparou Guimarães. “E não se ouviu uma palavra sequer, vinda de Bolsonaro, em solidariedade às famílias. 100 mil vítimas desta omissão governamental!”, disse.
Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Coronel Armando (PSL-SC) reconheceu que 100 mil mortes é uma “marca muito elevada” e que “causa muita dor”. “Como vice-líder do governo, nosso sentimento é de pesar, junto às famílias que perderam entes.”
Ele afirmou que o governo tem se empenhado em repassar recursos para estados e municípios. “Medidas estão sendo tomadas, mas sabemos que não tem vacina nem remédios efetivamente prontos contra a doença. Resta a nos mandar uma mensagem de condolência às famílias das vítimas”, lamentou.
Também vice-líder do governo, o deputado Eros Biondini (Pros-MG) destacou o papel da Câmara na análise das dezenas de medidas provisórias encaminhadas pelo governo. “Isso permitiu que o orçamento chegue mais rápido a políticas de saúde e de assistência social, como o auxílio emergencial de R$ 600 e outras medidas, para que não faltem medicamentos, leitos e para que não tenhamos fila no SUS”, exemplificou.
Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Vice-líder do Governo, Biondini defende ações do Executivo e uso da cloroquina
Biondini defendeu ainda o uso da cloroquina, medicamento que, segundo a Fiocruz, não possui eficácia comprovada no tratamento da Covid-19, podendo ser nocivo quando utilizado de forma inadequada e sem orientação médica.
“Assim como não há comprovação científica para a maioria dos tratamentos que estão sendo feitos, que haja mais boa vontade em relação ao uso da cloroquina e da azitromicina já no estágio inicial da doença, para que tenhamos mais chance de salvar vidas”, disse Biondini.
O deputado Dr. Luiz Antônio Teixeira Jr. (PP-RJ), coordenador da comissão externa que acompanha o enfrentamento do coronavírus, disse que o domingo do Dia dos Pais foi diferente e levou a uma reflexão. “O Brasil encarou [a doença] com muita dificuldade de planejamento e muita dificuldade de ação entre os entes federativos”, disse.
Para o deputado, a comissão externa, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente do Senado, Davi Alcomubre, vêm tendo um papel importante para fazer as coisas acontecerem. "Melhorando o aspecto legal, dando condições para que o brasileiro pudesse sobreviver do ponto de vista socioeconômico e apontando os caminhos para o Ministério da Saúde e os governos estaduais e municipais”, enumerou Teixeira.
Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Ganime: “Dia de lembrar os mortos não é dia de fazer política”
Líder do Novo, o deputado Paulo Ganime (RJ) usou as redes sociais para manifestar seus sentimentos às famílias das vítimas e destacou que "erros e acertos de políticos têm que ser lembrados”, mas não na data em que o Brasil atingiu as 100 mil mortes.
“A impressão que eu tenho é que a maioria não está nem aí para as pessoas que morreram. Estão preocupados em usar isso para bater em Bolsonaro, alguns governadores e prefeitos. Também acho que eles erraram muito. Mas dia de lembrar os mortos não é dia de fazer política”, publicou ele no Twitter.
A líder do Psol, deputada Fernanda Melchionna (RS), criticou o fato de Bolsonaro ainda não ter nomeado um novo ministro da Saúde desde a saída do médico Nelson Teich, no dia 15 de maio. "Não é nenhuma novidade que esta é a pior pandemia que a nossa geração já enfrentou, mas o problema é que Jair Bolsonaro decidiu combater a ciência e não o vírus”, criticou. A pasta é ocupada interinamente pelo general Eduardo Pazuello.
O líder do PT, deputado Enio Verri (PR), disse que Bolsonaro vem atuando com negligência e omissão e o culpou pela maior parte das 100 mil mortes. "Mortes de histórias, amores, pais, mães, filhos, amigos... Mortes que poderiam ter sido evitadas, se o Brasil fosse governado por um presidente que tivesse interesse nele.”
Para o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), ao tratar a Covid-19 como uma “gripezinha e reagir com desprezo e deboche diante das mortes no Brasil, Bolsonaro descumpre a Constituição e rasga o juramento que fez aos brasileiros”.
Os líderes do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), e do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), também se solidarizam com parentes das vítimas da Covid-19.