Postos para trabalhadores menos qualificados estão ameaçados com o fim de auxílios emergenciais do governo, diz a Oxford Economics
Enquanto os mais pobres se endividam, os ricos poupam mais.
A tendência que governos e Bancos Centrais tentam amenizar mundo afora desde o começo da crise do coronavírus pode ter sido enfraquecida por ora, mas as chances desse cenário piorar depois do fim dos auxílios emergenciais a empresas e vulneráveis são grandes.
O alerta é feito em relatório da Oxford Economics, que vê o risco de forte deterioração do cenário de desigualdade global nos próximos cinco anos em função da pandemia.
Esse movimento é alimentado desde a década de 1980, de um lado, pela forte migração de receitas à parte mais rica da população, e, de outro, pelo endividamento crescente das famílias mais pobres (veja gráfico mais abaixo):
“As famílias mais pobres gastam mais de sua renda em bens essenciais, como moradia e alimentação básica. Quando sua renda cai, eles ainda precisam gastar com o necessário e, portanto, são frequentemente forçados a se endividar”, diz.
Os ricos, por outro lado, geralmente consomem quase a capacidade máxima de seu desejo de consumo, portanto, qualquer receita adicional vai para a poupança para apoio futuro.
Além disso, “evidências de pandemias anteriores apontam para um aumento na desigualdade de renda, uma vez que a carga do ajuste econômico recai desproporcionalmente sobre os trabalhadores pouco qualificados”, diz o documento.
Em contextos de pandemia, o trabalho de baixa qualificação também é mais frequentemente prejudicado, em função das políticas de isolamento, que prejudicam a confiança no uso de serviços presenciais:
“Uma característica única desta pandemia é que a capacidade de trabalhar em casa está se revelando um fator chave na determinação das perdas de empregos”, diz a Oxford Economics.
Em outras palavras, os postos mais ameaçados são aqueles que não podem ser feitos facilmente em casa (por exemplo, restaurantes), e que também são tipicamente mal pagos.
As perdas entre os mais pobres também foram maiores durante a crise financeira global de 2008.
Efeito vai se perpetuando Há três formas de descrever a desigualdade numa sociedade, explica a consultoria:
De renda, que tem profundas implicações de curto prazo; De riqueza, que resulta no aprofundamento da divisão ao longo do tempo: a renda é gerada e frequentemente consumida durante a vida de uma família. A riqueza, no entanto, pode ser herdada e passada de geração em geração.
De consumo, que mostra como o consumo de bens e serviços está espalhado por toda a economia: A queda nos gastos do consumidor nos últimos meses foi muito maior para os grupos de renda mais alta, pois mais gastos podem ser adiados.
Essa última forma de medir desigualdade é importante, pois os gastos são frequentemente suavizados ao longo da vida dos indivíduos por meio de empréstimos, poupanças e auxílios emergenciais e, por isso, podem diferir da renda em alguns momentos.
Famílias de alta renda ainda estão gastando 11% abaixo das tendências pré-coronavírus, em comparação com uma alta de 2% entre as mais pobres.
Histórico A desigualdade de renda cresceu substancialmente desde a década de 1980 nas economias avançadas, especialmente no Reino Unido e nos Estados Unidos, depois das mudanças tecnológicas no mercado de trabalho e com a fragilidade dos sindicatos, diz a consultoria:
Entre 2017 e o início dos anos 1980, a parcela da renda detida pelo 1% do topo dobrou de 11% nos EUA e 6% no Reino Unido para 21% e 13%, respectivamente.
Nas últimas três décadas, a distribuição de riqueza na França, no Reino Unido e nos EUA também se tornou ainda mais inclinada para o topo da pirâmide social. Em média, os 50% mais pobres tinham apenas 6% da riqueza total em meados dos anos 80; em 2014, isso caiu pela metade para apenas 3%.
Nesse período, a riqueza dos 10% mais abastados cresceu rapidamente de 53% para 71%.