Nelson Teich sofre críticas no governo, no meio político e entre a população
Enquanto o Brasil já soma 12.400 mortes por Covid-19 e 177.589 casos confirmados da doença, e vários estados veem seus sistemas de saúde entrarem em colapso, a crise política no Ministério da Saúde parece longe do fim.
Escolhido há menos de um mês para substituir Luiz Henrique Mandetta, após um ruidoso processo de fritura, agora Nelson Teich, atual ministro, é quem experimenta essa sensação em três frentes: dentro do ministério, no universo político e junto à opinião pública.
Apesar da fritura em todas as frentes, integrantes do governo dizem que uma troca no comando da pasta ainda não é cogitada. No entanto, partidos do centrão, que negociam cargos com o governo federal em troca de apoio político, já estão de olho no cargo do ministro da Saúde.
O nome do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) também voltou a ser cogitado. Assim como o presidente Jair Bolsonaro, ele é contra o isolamento social.
“TODOS TÊM QUE ESTAR ALINHADOS”
Nesta semana, Nelson Teich foi surpreendido, durante uma coletiva de imprensa, ao saber que um decreto do presidente incluiu academias e salões de beleza entre serviços essenciais e limitou-se a dizer que essa é uma decisão do Ministério da Economia e do presidente.
Bolsonaro declarou inicialmente que não precisava falar com o ministro sobre o tema. Mais tarde, ao chegar ao Palácio da Alvorada, o presidente afirmou que faltou apenas ter avisado Teich e que o ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, admitiu essa falha.
Nos últimos dias, Teich passou a ser alvo também de ataques nas redes sociais. Bolsonaristas estão dando impulso à hashtag #ForaTeich.
O ministro da Saúde, que dizia estar “100% alinhado” com Bolsonaro, deu declarações sobre a não comprovação, até agora, da eficácia da cloroquina no tratamento da Covid-19, além de prever em nova diretriz a determinação do bloqueio total, conhecido como “lockdown”.
Nesta quarta-feira (13), Bolsonaro voltou a insistir na utilização da cloroquina como tratamento para o coronavírus. Ao sair do Palácio da Alvorada, o presidente afirmou que vai discutir com o ministro da Saúde, Nelson Teich, sobre o uso do medicamento. Segundo ele, a cloroquina precisa ser pensada de forma emergencial no tratamento de pacientes com a Covid-19.
“Na minha opinião porque não sou médico, mas muitos médicos do Brasil e de outros países entendem que a cloroquina pode e deve ser usada desde o início, mesmo sabendo que não há uma comprovação científica de sua eficácia”, disse Bolsonaro.
E ainda acrescentou, em relação ao ministro, que declarou ontem que a cloroquina tem efeitos colaterais e deve ser usada com cuidados: “Todos têm que estar afinados”.
GESTORES
As medidas de isolamento também geraram críticas entre gestores estaduais e municipais. Na segunda-feira (11), o Ministério da Saúde apresentou uma nova diretriz para orientar a flexibilização do isolamento social.
“É inoportuno falar de flexibilização quando vemos aumentar a cada dia o número de mortos e de casos, e de pessoas adoecendo gravemente. Estamos subindo ainda a montanha da epidemia”, afirma o presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais da Saúde (Conass), Alberto Beltrame.
Os primeiros pontos do plano foram anunciados pelo ministro no mesmo dia em que o presidente Bolsonaro decidiu considerar salões de beleza e academias como serviços essenciais. A normativa do Ministério da Saúde não é obrigatória, mas ela aumentou a pressão política contra o distanciamento rígido que vem sendo implementado em alguns estados para desacelerar o contágio do vírus.
MINISTÉRIO
Dentro do ministério, Teich também se vê isolado desde que assumiu o cargo. Ele exonerou técnicos e nomeou pelo menos sete militares, entre eles o secretário-executivo, considerado o número dois da pasta, general Eduardo Pazzuelo.
À crítica de que o ministério está com muitos militares à frente de funções importantes, Teich respondeu que se trata de “um tempo de guerra”, e os militares trazem planejamento estratégico.
Mas ex-funcionários alegam que os novos indicados não têm experiência na área, além de terem retirado autonomia que as secretarias da pasta tinham.