"A reforma administrativa terá importância ainda maior após a crise", disse Maia.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aproveitou teleconferência organizada pelo Bradesco BBI, nesta quarta-feira, 01, para mandar um recado claro ao governo: a aprovação rápida de medidas de combate à crise econômica decorrente da pandemia do novo coronavírus não significa que o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, terão facilidade na tramitação de outras propostas que não estejam vinculadas ao curto prazo.
Perguntado na teleconferência para investidores se o estado emergencial em que vive o País forçou uma melhora nas relações entre Executivo e Legislativo, Maia foi taxativo. "A relação com governo não está azeitada, e isso não nos atrapalhará no curto prazo. O governo não tem apoio no Parlamento, mas as medidas contra a crise têm apoio de todos os partidos", afirmou.
O presidente da Câmara ainda cobrou mais agilidade do governo no envio de medidas emergenciais e na operacionalização dos projetos que já foram aprovados pelo Congresso. Maia ironizou a cobrança feita na terça-feira por Guedes pela aprovação da chamada PEC do Orçamento de Guerra. Maia lembrou que a proposta não partiu da equipe econômica, mas, sim, do próprio Congresso. "Guedes ontem me cobrou encaminhar (para votação) PEC que ele nem sabe qual é", rebateu.
Para Maia, o próprio Orçamento de Guerra permitirá que o governo tome "medidas heterodoxas", ou seja, injetar mais recursos na economia, seja aumentando a renda mínima para os trabalhadores, seja aportando capital de giro nas empresas. Ele reclamou da resistência da equipe econômica em abrir ainda mais as torneiras do gasto emergencial. "Não é hora de discutir como financiar medidas. O Estado vai financiar e pronto", definiu.
Na avaliação do presidente da Câmara, o governo precisa agir mais rapidamente para garantir "previsibilidade e conforto" para que trabalhadores e empresários possam cumprir as determinações de isolamento social da Organização Mundial da Saúde (OMS). "Estou vendo muito anúncios de decisões do governo que não chegam a lugar nenhum", criticou.
Comércio
Sem citar Bolsonaro, Maia disse que pressões pela reabertura do comércio por alguns executivos podem piorar ainda mais a situação do País frente à covid-19. "É preciso dar tranquilidade para o ministro da Saúde (Luiz Henrique Mandetta) avaliar a redução do isolamento", completou.
Ainda assim, mais uma vez o presidente da Câmara apontou que a crise pode ser uma boa oportunidade para que o Executivo e o Congresso voltem a se entender. Novamente sem citar diretamente Bolsonaro, Maia voltou a pedir que cesse o apoio do entorno do presidente aos ataques ao Congresso nas redes sociais. "Essa crise pode ser a oportunidade para o governo retomar a relação também com parte da sociedade", acrescentou.
Passada a emergência de saúde, Maia se comprometeu a continuar o trabalho pela aprovação das reformas. A reforma tributária, reforçou, andará independentemente da relação com o Executivo. Já a reestruturação das carreiras dos servidores ainda depende do envio de uma proposta pela equipe econômica.
"A reforma administrativa terá importância ainda maior após a crise", disse Maia.