Inquérito investiga quem financia os ataques virtuais promovidos pelo assessor Edson Pires Salomão e seu grupo
O paulista Edson Pires Salomão trabalhava como corretor de seguros em São Paulo quando, indignado com a corrupção e a “esquerda”, resolveu se juntar a uma manifestação em apoio a Jair Bolsonaro. Era maio de 2016 e o então deputado federal havia sido alvo de uma cusparada do colega de Congresso Jean Wyllys depois de homenagear o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra durante seu voto pelo impeachment de Dilma Rousseff. O evento, a ser realizado no Largo da Batata, em São Paulo, era organizado por um jovem de 21 anos chamado Douglas Garcia. Salomão não só confirmou presença, como também ajudou Garcia a preparar o protesto. Algumas centenas de pessoas compareceram, segundo os organizadores. Mas uma presença em especial os deixou orgulhosos.
“Do nada, o Eduardo Bolsonaro apareceu lá no protesto com o assessor dele, o Gil Diniz. Ele até discursou para o público. No fim do dia, a gente pensou: puts, isso aí de protestar dá certo”, contou Salomão.
Quase quatro anos transcorreram, e os personagens de antes protagonizam outros papéis. Jair se tornou presidente, Eduardo, o deputado federal mais votado da história e quase embaixador, Garcia virou deputado estadual em São Paulo pelo PSL e Salomão seu assessor. O ex-corretor também comanda uma organização com sede na Vila Mariana chamada Movimento Conservador, que propaga ideias como a liberação do porte de arma e a defesa de valores cristãos pelo Estado (ele é batista) e é contrário a qualquer flexibilização da criminalização do aborto. Para além da função ideológica, o grupo opera como máquina de destruição de reputações de opositores e bolsonaristas considerados “traidores”, como foi o caso da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), alvo de ofensas pessoais por militantes e robôs depois de entrar em rota de colisão com Eduardo Bolsonaro.
Em razão de sua atuação virtual belicosa, Salomão também foi inserido em uma história bem menos alvissareira que o ímpeto de justiça que o moveu em 2016: tornou-se alvo de um inquérito aberto no ano passado a pedido do Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar ameaças a ministros da Corte. Investigado, sua casa foi vasculhada pela Polícia Federal (PF) em dezembro, seus computadores apreendidos e também, segundo ÉPOCA apurou, seus sigilos bancário e fiscal foram quebrados no âmbito do mesmo processo. Com isso, o relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes, busca apurar quem financia os ataques virtuais promovidos por Salomão e seu grupo. Também foi quebrado o sigilo de um de seus parceiros no Movimento Conservador, Wellington de Moura. A investigação passa um pente-fino em todas as movimentações financeiras feitas pela dupla entre julho de 2018 e novembro de 2019. O inquérito corre em sigilo.