A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) criticou nesta terça-feira o presidente Jair Bolsonaro por ofender "de forma covarde" a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, com declaração que a entidade considerou como quebra de decoro.
"Ela (a jornalista) queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim", disse Bolsonaro a um grupo de simpatizantes, rindo, na saída do Palácio da Alvorada nesta manhã.
A fala do presidente referia-se ao depoimento de um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, dado na semana passada à CPI das Fake News no Congresso.
Segundo reportagem da Folha em dezembro de 2018, a empresa Yacows, onde Hans River do Rio Nascimento trabalhava, teria feito disparos em massa de mensagens em benefício de políticos.
No depoimento à CPI na semana passada, Hans River disse --sem ter apresentado qualquer prova-- que a jornalista teria feito uma insinuação sexual para ele com o objetivo de obter informações. Posteriormente, a Folha publicou longa reportagem mostrando o histórico de contatos entre os dois contradizendo as afirmações de Hans.
A ABI, na nota assinada pelo presidente da associação, Paulo Jeronimo de Sousa, critica Bolsonaro pela declaração e diz que não se trata de uma questão política ou ideológica.
"Nesta terça-feira, mais uma vez, para vergonha dos brasileiros, que têm o mínimo de educação e civilidade, o presidente da República, Jair Bolsonaro, é ofensivo e agride, de forma covarde, a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo", disse o presidente da ABI, em nota.
Para a ABI, o comportamento "misógino desmerece o cargo de presidente e afronta a Constituição".
"O que temos visto e ouvido, quase quotidianamente, não se trata de uma questão política ou ideológica. Cada dia mais, fica patente que o presidente precisa, urgentemente, de buscar um tratamento terapêutico", afirmou.
A ABI, segundo a nota de seu presidente, pede que a Procuradoria-Geral da República denuncie o que considera quebra de decoro de Bolsonaro.
Outras entidades também protestaram contra a fala do presidente. A Comissão Nacional de Mulheres, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), repudiou o que chamou de grave episódio de machismo, sexismo e misoginia protagonizado pelo presidente da República.
"Dedicamos nossa solidariedade e atuação sindical, seja no campo político ou no jurídico (em fase de encaminhamento), às mulheres desse país, às mulheres jornalistas, às mulheres trabalhadores, na pessoa de Patrícia Campos Mello", disse a comissão em nota.