Áudio divulgado nessa quinta-feira revela que ex-assessor de Flávio, mesmo longe dos holofotes, mantém apetite por cargos públicos
Políticos enrolados com denúncias, em conversas reservadas, costumam reclamar de cúmplices insaciáveis. Referem-se a pessoas que ajudaram em alguma prática indevida, mas depois de favorecidas passaram a exigir mais vantagens para ficarem caladas.
Embora não se possa dizer que seja esse o caso, a divulgação nessa quinta-feira (24/10/2019) de um áudio do ex-policial militar Fabrício Queiroz faz lembrar esse tipo de relação entre autoridades públicas e seus cupinchas. Ex-assessor do atual senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o ex-PM sabe segredos da família presidencial.
Queiroz se tornou conhecido dos brasileiros no final de 2018, quando se tornaram públicas as movimentações atípicas em suas contas correntes. Desde então, acumularam-se suspeitas de lavagem de dinheiro, “rachadinhas” de salários e relações com milícias no gabinete de Flávio.
As investigações sobre Queiroz e Flávio foram suspensas no final de setembro pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto o processo permanecer trancado, mesmo que sejam inocentes, os brasileiros ficarão em dúvida quanto à conduta dos dois. Tampouco descobrirão onde ele está.
Sem esclarecer as denúncias, as suspeitas ficarão no ar e, vez por outra, voltarão a assombrar a família do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Foi isso que aconteceu neste episódio da divulgação do áudio de Queiroz.
Em conversa com um interlocutor não identificado, o ex-assessor de Flávio pede emprego no Congresso. Não deixa claro se seria para ele mesmo ou para algum familiar. Mas fica evidente que Queiroz queria um posto bem remunerado. “Vinte ‘continho’ pra gente caía bem pra caralho…”, argumento o ex-PM. Sugere usar a influência do gabinete do ex-chefe no Senado.
Nesse ponto, a situação de Queiroz remete às circunstâncias descritas no primeiro parágrafo deste texto. Exposto em todas as mídias como suspeito de operar uma rede de irregularidades, o amigo da família do presidente permanece há quase um ano em silêncio quanto às suas atividades ocultas no gabinete de Flávio. Caso não tenha culpa, não demonstra qualquer interesse em provar inocência à opinião pública.
Enquanto os advogados do senador trabalham para impedir o prosseguimento do processo, Queiroz procura se manter nas sombras, longe da imprensa. Nas atuais circunstâncias, esse comportamento aumenta a suspeita de que ele se cala para não prejudicar Flávio e o pai. Se for por algo grave – não se sabe se é este o caso -, o silêncio tem ainda mais valor para o presidente e seu primogênito.
Só a conclusão das investigações poderia esclarecer essas dúvidas. De qualquer forma, pelo visto, o ex-assessor se considera merecedor de “vinte continho” por mês. No áudio vazado, não justifica a pretensão. Mas demonstra apetite por cargos e continua de boca fechada.