Situação de jovens que estão sob cuidados da parlamentar também será apurada
A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Niterói vai investigar as adoções feitas pela deputada federal Flordelis dos Santos de Souza (PSD) e a situação de crianças e adolescentes que estão sob os cuidados da parlamentar. A investigação foi aberta após o Conselho Tutelar do Largo da Batalha, em Niterói, informar à polícia que uma adolescente está de forma irregular na casa de Flordelis. A jovem está na família há seis anos, nunca foi adotada e Flordelis sequer possui sua guarda legal. Com o registro de ocorrência feito pela presidente do conselho tutelar, Eliana Virgílio, a DPCA decidiu ampliar as investigações.
A polícia vai apurar se todos os menores que estão na casa de Flordelis atualmente foram adotados de forma regular. Além disso, a delegacia vai investigar outras denúncias. Uma delas é a de que a primeira criança recolhida pela deputada, em 1993, na Central do Brasil, nunca foi formalmente adotada. Rayane dos Santos Oliveira, hoje com 26 anos, foi levada para a casa da parlamentar com poucos dias de vida, ficou sob os cuidados de Simone dos Santos, filha biológica de Flordelis, e foi registrada como sua filha sem passar pelo aval de um juiz. Não há nenhum processo na Justiça sobre a adoção da jovem. Registrar o filho de outra pessoa como seu é crime previsto no Código Penal. A pena para o delito é de dois a seis anos.
A DPCA vai investigar ainda a origem de Daniel dos Santos de Souza, que sempre foi apresentado como filho biológico por Flordelis e o pastor Anderson do Carmo, seu marido que foi morto em junho deste ano. A sogra da deputada, em depoimento sobre a morte do filho, afirmou que Daniel é adotado. Não há, no entanto, nenhum processo de adoção do rapaz e ele foi registrado como se fosse filho de Flordelis e Anderson.
Pastora e cantora gospel, Flordelis ficou conhecida como “mãe de 55 filhos”, a grande maioria deles, adotados. No ano passado, ela se elegeu deputada federal com quase 200 mil votos tendo como uma de suas principais bandeiras a desburocratização da adoção no Brasil.
A investigação da DPCA foi aberta no último dia 8, após a conselheira tutelar Eliana Virgílio ter ido à delegacia solicitar que fosse apurada a origem da adolescente atualmente em situação irregular na casa da deputada. Convocada para dar explicações sobre a jovem no Conselho Tutelar do Largo da Batalha, Flordelis admitiu ter poucas informações da origem da menina, tratada por ela como filha. Ela não sabe, por exemplo, quem são seus pais.
Além de investigar as adoções feitas por Flordelis, a DPCA já apura a origem da adolescente e quer saber em que condições a criança foi levada para a casa da parlamentar. A polícia já ouviu um dos filhos afetivos de Flordelis, André Luiz de Oliveira, no último dia 10. Ele admitiu ter sido o responsável por buscar a adolescente em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, e levá-la para a casa da família, em Pendotiba, Niterói, há cerca de seis ou sete anos. Segundo André, a jovem foi entregue a ele por Carlos Knust, então diretor da gravadora MK Music, e sua esposa. O casal será intimado a prestar depoimento.
O filho da deputada disse ainda desconhecer que haja processo de adoção da adolescente. Flordelis afirma que já deu entrada em processo para adotar a jovem, mas uma informação do próprio Tribunal de Justiça do Rio desmentiu a deputada. De acordo com o TJ, não há qualquer processo solicitando a guarda ou adoção da adolescente por Flordelis. A assessoria de imprensa de Flordelis informou que “a deputada está à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento, como sempre esteve”.
Flordelis já é alvo de outro inquérito, o que investiga a morte de seu marido, o pastor Anderson do Carmo. Ele foi assassinado a tiros no dia 16 de junho, na casa da família, em Pendotiba, Niterói. Dois filhos de Flordelis - Flávio e Lucas - são réus pela morte do pastor e começam a ser julgados pelo crime na próxima semana. Após o indiciamento dos dois, a Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo abriu outro inquérito para investigar a participação de outras pessoas no crime, entre elas Flordelis.