O presidente Jair Bolsonaro admitiu nesta quinta-feira que conversou com parlamentares antes de uma manobra de parte da bancada de seu partido, o PSL, para destituir o líder da legenda na Câmara, Delegado Waldir (GO), e colocar o filho do presidente Eduardo Bolsonaro (SP) no cargo, mas não comentou o conteúdo das conversas e disse que ter sido grampeado seria uma "desonestidade".
"Eu falei com alguns parlamentares, me gravaram? Deram uma de jornalista? Eu converso com deputados. Eu não trato publicamente desse assunto (PSL), converso individualmente. Se alguém grampeou o telefone, primeiro é uma desonestidade, tá ok?", disse o presidente na saída do Palácio da Alvorada ao ser questionado sobre áudios que seriam supostamente de suas conversas com parlamentares, vazados na noite de quarta-feira.
Em uma das falas atribuídas ao presidente, divulgada pelo jornal O Globo, Bolsonaro diz que faltaria apenas uma assinatura para “tirar o líder” e ressalta que o líder do partido e o presidente têm o poder de “indicar pessoas, de arranjar cargos no partido, promessa para fundo eleitoral por ocasião das eleições.”
A tentativa de emplacar Eduardo na liderança elevou a temperatura da crise interna do PSL. Na noite de quarta, o grupo de Bolsonaro conseguiu 27 assinaturas para tirar Waldir --uma a mais do que a metade da bancada-- mas foi combatida com outra lista, apresentada pelos deputados alinhados a Luciano Bivar, presidente do partido, com 32 nomes, sendo que cinco deles também constavam da lista dos dissidentes.
Em seguida, o grupo de Bolsonaro apresentou uma segunda lista com 27 nomes, alegando que o grupo de Bivar havia usado uma lista antiga para tentar manter Waldir na liderança.
As duas listas terão ainda que ser checadas pela administração da Câmara e a autenticidade das assinaturas, conferida. Em princípio, a lista que vale é a última apresentada, se não houver erros. Mas a troca precisa ser chancelada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para entrar em vigor.
A disputa, no entanto, escancarou a briga por poder dentro do PSL e diferenças que dificilmente poderão ser resolvidas. Alguns deputados inicialmente aliados do clã Bolsonaro, como Julian Lemos (PB) e a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (SP), assinaram a lista em favor de Waldir contra Eduardo.