Matéria do New York Times afirma que Trump pressionou outro líder mundial, o premiê da Austrália, a ajudar em investigação contra seus rivais políticos
A situação política dos EUA continua em ebulição nesta segunda-feira (30), com novas revelações e desdobramentos que podem complicar ainda mais a situação do presidente Donald Trump, que passará por uma investigação no Congresso que pode se transformar em um processo de impeachment.
Uma matéria do jornal The New York Times mostrou que Trump, além de pressionar o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, também ligou para o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, para pedir ajuda de forma pessoal.
Se no caso do ucrianiano o objetivo era obter informações comprometedoras contra o ex-vice presidente Joe Biden, a ligação para o australiano tinha o objetivo de pedir que o país investigue seus próprios agentes, por conta da investigação por uma possível interferência da Rússia na eleição presidencial de 2016.
Mesmos métodos
A ligação para Scott Morrison passou pelo mesmo processo que a de Zelenskiy, segundo o Times. Uma transcrição do conteúdo, que deveria ser arquivada em um sistema relativamente aberto por não conter informações importantes para a segurança nacional, foi colocada em uma outra base de dados, reservada para documentos confidenciais.
No contato, Trump pediu ao premiê australiano que colaborasse com uma investigação que está sendo feita pelo procurador-geral dos EUA, William Barr, em uma tentativa de ligar as denúncias que deram origem à investigação sobre a Rússia aos seus rivais do partido Democrata,
Isso aconteceu porque a investigação feita pelo FBI e encerrada pelo procurador-especial Robert Mueller este ano se iniciou a partir de uma informação que saiu da Austrália.
Em 2016, o então assessor de campanha de Trump, George Papadopoulos, teria dito ao embaixador australiano no Reino Unido, Alexander Downer, que a Rússia teria denúncias contra Hillary Clinton, adversária de Trump na eleição. O governo da Austrália levou a denúncia aos EUA e o FBI deu início à investigação.
Denunciante na mira
Durante um evento na Casa Branca nesta segunda, Trump disse a jornalistas que está tomando medidas para descobrir a identidade de um agente da CIA que fez a reclamação formal que resultou na publicação de sua conversa com Zelinskiy. Ele alega ter "direito" a saber de quem partiu a denúncia.
A legislação norte-americana prevê completo anonimato a quem faz esse tipo de denúncia, para que o funcionário público não sofra retaliações por ela. "Não existem exceções nessa lei, para nenhum indivíduo ", destacou o advogado do denunciante, Mark Zaid.
Advogado intimado
Além de tudo isso, o advogado pessoal de Trump, o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, foi intimado por deputados do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes a entregar documentos sobre os contatos que manteve com membros do governo ucraniano a pedido de Trump.
A imprensa norte-americana alega que ele teve diversas reuniões com membros do gabinete de Zelinskiy após a ligação com Trump, no fim de julho. Ele afirmou que a intimação seria parte de uma perseguição promovida por democratas, mas coloca o presidente em uma situação delicada.
Como não é membro do governo e não está na folha de pagamento do Poder Executivo, ele não pode receber o tipo de indulto reservado ao presidente. Se alegar que é apenas advogado pessoal de Trump e que os documentos seriam protegidos pelo sigilo profissional, comprovaria que age como enviado particular do presidente e pode complicar a situação dele em um processo de impeachment.
Outros problemas
Além disso, também foi confirmado nesta segunda-feira que o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, estava no Salão Oval durante o telefonema de Trump com Zelinskiy.
O presidente também parece perder apoio dentro de seu partido. O líder do governo no Senado, o republicano Mitch McConnell, disse que não terá alternativa a não ser realizar o julgamento de impeachment na casa, caso a abertura do processo seja aprovada pela Câmara.