O presidente americano, Donald Trump, usou o poder de seu cargo para tentar fazer a Ucrânia interferir na eleição americana de 2020 ao pedir que Kiev investigasse um rival político para "ganho pessoal", segundo a denúncia anônima de um funcionário da inteligência dos EUA.
A íntegra do texto que pode levar ao impeachment de Trump foi divulgada nesta quinta-feira, 26, pela Comissão de Inteligência da Câmara depois de revelações contundentes sobre os contatos de Trump e sua equipe com o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski.
O secretário de Justiça (e procurador-geral dos EUA), William Barr, e o advogado pessoal de Trump, Rudolph Giuliani foram peças centrais nesse esforço, segundo a denúncia.
O texto diz que o denunciante, que não foi identificado, obteve informações de várias fontes de governo indicando que "autoridades da Casa Branca intervieram para 'bloquear' todos os registros da ligação (entre Trump e Zelenski), principalmente a transcrição oficial palavra por palavra da chamada que foi produzida, como é habitual, pela Sala de Situação da Casa Branca”.
"Esse conjunto de ações enfatizou para mim que os funcionários da Casa Branca entenderam a gravidade do que aconteceu na ligação", diz a queixa.
A denúncia levou em consideração relatos de várias autoridades da Casa Branca que ficaram "profundamente perturbadas" com o que ouviram na ligação, diz o documento.
"Me disseram que havia uma discussão em andamento com advogados da Casa Branca sobre como tratar a ligação por causa da probabilidade de terem testemunhado o presidente abusar de seu gabinete para obter ganhos pessoais", afirmou o denunciante.
O reclamante anônimo também afirmou que várias autoridades relataram que um contato subsequente entre Trump e Zelenski dependeria de o presidente ucraniano estar disposto a "fazer sua parte" na investigação do ex-vice-presidente Joe Biden e de seu filho, Hunter Biden.
O denunciante disse que os funcionários da Casa Branca que transmitiram os detalhes da ligação para ele estavam "profundamente perturbados".
"No curso de minhas funções oficiais, recebi informações de vários funcionários do governo dos EUA de que o Presidente dos Estados Unidos está usando o poder de seu escritório para solicitar interferência de um país estrangeiro nas eleições de 2020 nos EUA", escreveu o denunciante na queixa registrada em 12 de agosto.
Resposta da Casa Branca
A Casa Branca prometeu nesta quinta resistir à "histeria e falsas narrativas" dos democratas depois que foram divulgados os detalhes da denúncia contra Trump.
"Nada mudou com a publicação deste relatório, que nada mais é que uma compilação de relatos de terceiros de eventos e recortes de imprensa improvisados", disse a porta-voz de Trump, Stephanie Grisham.
"A Casa Branca continuará resistindo à histeria e falsas narrativas que os democratas e muitos dos principais meios de comunicação propagam", completou em um comunicado.
Audiência no Congresso
A versão não confidencial da denúncia - ainda que com alguns trechos omitidos - foi divulgada nesta quinta pouco antes da audiência na Comissão de Inteligência da Câmara do diretor interino de Inteligência Nacional, Joseph Maguire.
Foi o próprio gabinete de Maguire que forneceu aos legisladores essa versão não confidencial da denúncia para que o texto pudesse ser discutido na audiência pública.
Embora a transcrição reconstruída da ligação tenha sido divulgada na quarta-feira, a queixa em sua quase totalidade contém mais detalhes, incluindo informações sobre funcionários da Casa Branca que podem ter testemunhado a má conduta do presidente e outras ações.
Acusação democrata
Deputados democratas alegam que Trump violou seu juramento presidencial ao pressionou um líder estrangeiro a investigar um de seus rivais políticos.
Inicialmente, a Casa Branca recusou-se a fornecer ao Congresso a denúncia ou a revelar o que foi dito na chamada. Depois que os democratas deram os primeiros passos para o impeachment, o governo divulgou detalhes da ligação e compartilhou uma versão confidencial da queixa com parlamentares.
As alegações contidas eram "profundamente perturbadoras" e "muito críveis", afirmou o deputado Adam Schiff, presidente da Comissão de Inteligência, na quarta-feira, depois de analisar a denúncia.
Trump rejeitou as alegações de que agiu de forma inadequada. No início da manhã desta quinta, o presidente comentou o caso em sua conta no Twitter.
"Os democratas estão tentando destruir o Partido Republicano e tudo o que ele representa. Fiquem juntos, façam sua parte e lutem duramente republicanos. Nosso país está em jogo!", escreveu o presidente.
Entenda a polêmica
Um funcionário da inteligência não identificado ficou tão alarmado com a conversa dos dois líderes e as interações entre o advogado de Trump e as autoridades ucranianas que apresentou uma queixa ao inspetor-geral das agências de inteligência dos EUA.
Embora o inspetor-geral tenha sugerido alertar o Congresso sobre a denúncia, advogados do Departamento de Justiça concluíram que o texto não deveria ser compartilhado com o legisladores já que envolvia a conduta do presidente e não de um funcionário das agências de inteligência.
Em vez disso, a denúncia foi enviada à Divisão Criminal do Departamento de Justiça no final de agosto como uma possível violação das leis financeiras de campanha.
Depois de analisar o assunto por várias semanas, funcionários do Departamento de Justiça concluíram que nenhuma lei havia sido violada e fecharam o caso sem abrir uma investigação formal.