Em um de seus depoimentos à Polícia Civil do Rio, Lucas Cézar dos Santos, filho da deputada federal Flordelis dos Santos, afirmou que recebeu uma mensagem de Rayane Silva, sua sobrinha, pedindo que ele matasse o pastor Anderson do Carmo. O relato foi dado por Lucas no dia 5 de agosto, ainda na primeira fase das investigações. Rayane, de 26 anos, uma das netas de Flordelis, teve o celular apreendido por agentes da Polícia Civil na manhã desta terça-feira, no apartamento funcional da parlamentar em Brasília.
Lucas afirmou que recebeu a mensagem pelo Instagram, entre março e maio deste ano. Nela, Rayane lhe oferecia R$ 10 mil para que ele contratasse alguém para cometer o crime. Metade do dinheiro ficaria para ele e a outra metade, para a pessoa contratada. Ainda de acordo com o filho de Flordelis, Rayane disse que já estava com o dinheiro e era só ele fazer o serviço. A jovem afirmou ainda que, após o crime, era para ele pegar o celular do pastor, retirar o chip e quebrá-lo.
No mesmo relato, Lucas contou à polícia que uma de suas irmãs, Marzy Teixeira, também lhe pediu para matar o pastor Anderson e ofereceu a mesma quantia. Ele também afirma ter se negado ao cometer o crime.
Em seu depoimento à polícia, Marzy confessou ter pedido a Lucas para matar Anderson e revelou que havia contado sobre seu plano para Flordelis. Marzy alegou, no entanto, que acabou desistindo do crime.
Outra filha adotiva de Flordelis, Érica dos Santos, também deu um depoimento que comprometeu Rayane. Ela afirmou que a sobrinha lhe enviou uma mensagem em maio deste ano perguntando se ela tinha "o contato de algum bandido".
Ainda no depoimento, prestado por Érika no dia 12 de agosto, a filha de Flordelis afirmou ter sido procurada por Rayane no Dia das Mães. Segundo o relato, a jovem perguntou se ela passaria na casa da família para dar um beijo em Flordelis, já que Érika já não mora mais no local. Rayane também perguntou se a jovem sabia que Lucas Cézar dos Santos, filho adotivo de Flordelis e Anderson, não estava mais morando na casa.
Lucas é acusado de envolvimento na morte de Anderson. Um filho biológico de Flordelis, Flávio dos Santos Rodrigues, também é acusado do crime. Ele confessou à polícia que deu seis tiros em Anderson, que era seu padrasto. Já Lucas é acusado de ter ajudado o irmão a comprar a arma.
Questionada pelos policiais sobre o porquê de Rayane ter perguntado se ela tinha o contato de um bandido, Érika afirmou acreditar ter sido pelo fato da sobrinha saber que ela possui parentes biológicos envolvidos com o tráfico de drogas.
Os policiais também estiveram na casa da familia, em Pendotiba, Niterói, no gabinete de Flordelis no Centro do Rio, e em um imóvel na Freguesia, em Jacarepaguá. A operação faz parte das investigações da morte do pastor Anderson do Carmo, marido da parlamentar. Também foram apreendidos os celulares de Flordelis e de Lorrane dos Santos, de 23 anos, neta da parlamentar e irmã de Rayane. De acordo com informações apuradas pelo EXTRA, Rayane morava com o marido no apartamento funcional de Flordelis em Brasília.
Os celulares da parlamentar e de Lorraine foram apreendidos em Niterói. Flordelis estava com telefone e número novos desde o crime. Ela alegou ter perdido o dela e comprou outro. Em coletiva de imprensa, dias após o crime, a deputada disse não saber do paradeiro de seu aparelho.
No início das investigações, a DH pediu a busca e apreensão do celular de Flordelis. Entretanto, a polícia desistiu da solicitação após consultar o Supremo Tribunal Federal (STF) para saber se as investigações deveriam ou não ser mantidas com a Polícia Civil do Rio (devido ao fato de Flordelis ser deputada federal).
A decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do STF, manteve as investigações com a instituição e foi anunciada em agosto. Porém, o pedido de busca e apreensão do celular não voltou a ser feito até a operação desta terça-feira.
Além dos celulares, a polícia apreendeu um computador de Anderson no gabinete de Flordelis no Centro do Rio. Policiais suspeitam que o o equipamento esteja sincronizado com o celular e o tablet do pastor.
Celulares escondidos
Érika também contou aos policiais ter presenciado, no dia em que agentes da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo cumpriam mandado de busca e apreensão na casa da família, em Pendotiba, no dia 18 de junho, Rayane e sua mãe, Simone dos Santos, de 39 anos, escondendo telefones celulares em um quarto.
Os policiais estiveram na casa dois dias após o crime e o objetivo era apreender os celulares do próprio pastor Anderson e de Flávio. Ambos nunca foram encontrados. Na ocasião, mais de 20 celulares de pessoas que vivem na casa foram apreendidos.
Lorraine é investigada pela DH por suspeita de ter jogado um celular no mar também durante a busca e apreensão realizada pela polícia na casa da família, em Pendotiba. A polícia recebeu informações de que a jovem foi levada por um mototaxista até a Praia de Piratininga, também em Niterói, onde arremessou o aparelho no mar.
Um mototaxista foi ouvido pela polícia e confirmou que levou Lorraine em Piratininga no dia 18 de junho. Ele afirmou, no entanto, não ter visto o que a jovem foi fazer no local. O rapaz disse que ela não demorou na praia, e que provavelmente só deu tempo dela ir até a água e retornar. Depois do episódio, ele levou a neta de Flordelis novamente para o bairro onde a família mora.
Já Lorraine, em seu depoimento, negou ter jogado o celular no mar. Ela disse que foi à Praia de Piratininga relaxar e aproveitou para jogar um tênis seu, de cor vermelha, na água. Dois filhos adotivos de Flordelis - Daniel dos Santos de Souza e Roberta dos Santos de Souza - afirmaram, em depoimento, que acreditam no envolvimento de Lorrane, Simone, Marzy e Flordelis na morte de Anderson.
Daniel e Roberta também afirmaram aos investigadores que Lorraine colocava remédios na comida do pastor a mando de Flordelis. A polícia investiga se estavam tentando envenená-lo.
Lorrane é filha biológica de Simone dos Santos. Já Rayane, sua filha adotiva. Segundo relatos de Flordelis, Rayane foi encontrada por ela no início dos anos 90, na Central do Brasil, e levada para sua casa na favela do Jacarezinho. Simone, que já era adolescente na época, foi quem ficou responsável por cuidar da menina, que em seguida foi adotada por ela.
Simone, Lorrane e Rayane não estavam na casa da família, em Pendotiba, no momento do crime. As duas primeiras estavam nas casas de seus namorados e a terceira, em Brasília.