Troca de mensagens entre Fabrício Queiroz e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega – ex-mulher de Adriano Nóbrega, um dos milicianos mais procurados do Rio – indica que, mesmo após ser exonerado do cargo, o ex-assessor continuou a agir como integrante do gabinete do então deputado estadual, hoje senador, Flávio Bolsonaro (PSL), filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro. As conversas foram rastreadas pelo Ministério Público.
Revelados pelo jornal O Globo, diálogos via WhatsApp indicam que Queiroz informou à assessora, em 6 de dezembro de 2018, que ela havia sido exonerada. No mesmo dia, o jornal O Estado de S. Paulo havia revelado que relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), apontou a existência de movimentações “atípicas” nas contas bancárias de Queiroz. O MP do Rio investiga se houve “rachadinha” (prática ilegal em que o servidor repassa parte ou a totalidade de seu salário para o parlamentar que o contratou) no gabinete de Flávio na Assembleia do Rio.
Queiroz já não era oficialmente funcionário do hoje senador desde 16 de outubro. As conversas com Danielle, contudo, sugerem que ele seguia tomando decisões em nome do parlamentar, que sempre afirmou não saber das atividades do PM. O ex-assessor pediu ainda para ela parasse de usar o sobrenome Nóbrega, a fim de evitar a associação do miliciano com o gabinete de Flávio.
Os contatos entre Queiroz e Danielle foram monitorados pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em investigação sobre milícia – que resultou na prisão de 13 suspeitos na Operação Os Intocáveis.
Um dos investigados com prisão decretada é o ex-capitão da PM Adriano Nóbrega, que foi casado com Danielle. Além dela, Raimunda Veras Magalhães, mãe do ex-oficial, também trabalhou no gabinete de Flávio na Alerj. As investigações sobre as suspeitas de “rachadinha” são atribuição de outro órgão do MP, o Grupo de Atuação Especializada de Combate à Corrupção (Gaecc).
Em nota, o advogado Paulo Klein afirma que, pela influência que tinha no gabinete, Queiroz continuava a ser procurado por assessores – principalmente os nomeados por ele, como Danielle – mesmo fora do cargo. A defesa afirma lamentar “que mesmo diante da comprovada fragilidade de sua saúde, a devassa em sua vida pessoal e profissional não cessem, inclusive com o vazamento de informações relacionadas ao seu sigilo telefônico”, disse.
“De todo modo, tais diálogos tinham como objetivo evitar que se pudesse criar qualquer suposição espúria de um vínculo entre ele e a milícia. Na realidade, a senhora Daniele foi convidada por ele a participar do gabinete em razão do trabalho social relevante do qual participa. Infelizmente, ao que parece, neste momento, todo e qualquer fato é distorcido com vistas a revelar algo supostamente ilícito, quando, em verdade, somente houve trabalho sério, honesto e comprometido.” Procurado pela reportagem, Flávio Bolsonaro não quis comentar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.