Segundo as mensagens, os procuradores estavam incomodados com a demora da procuradora-geral para homologar acordos de delação
Novas mensagens reveladas nesta sexta-feira (09/08/2019) como parte do acervo da Vaza Jato mostram procuradores da Operação Lava Jato insatisfeitos com a atuação da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, no Ministério Público Federal (MPF). Segundo os diálogos divulgados pelo site El País, em parceria com o Intercept Brasil, o coordenador da força-tarefa em Curitiba (PR), Deltan Dallagnol, chegou a dizer que sentia saudade do ex-procurador-geral Rodrigo Janot. Além disso, os integrantes do MPF teriam avaliado a possibilidade de repassar informações secretas à imprensa para pressioná-la em questões internas.
“A mensagem que a demora passa é que [Dodge] não tá nem aí pra evolução as investigações de corrupção. Da saudades do Janot”, disse Dallagnol, ao criticar a intenção da procuradora-geral de tirar férias sem antes resolver “pendências”. Na sequência, o coordenador da Lava Jato ainda sugeriu uma pressão contra ela “usando” a imprensa “em off”, passando informação a jornalistas sem se identificar, uma estratégia várias vezes cogitada pelo procurador nas mensagens.
Em relação à decisão da PGR que suspendeu um pedido de suspeição da força-tarefa contra o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Dallagnol afirmou no grupo com os colegas que Dodge não “confronta” o magistrado porque “sonha” com um posto na Suprema Corte.
O ponto que mais aparece nas mensagens como uma insatisfação dos procuradores é a suposta morosidade de Dodge para homologar os acordos de delação, o combustível que manteve a Lava Jato acesa durante seus cinco anos. Peças-chaves da investigação, como Léo Pinheiro, o empreiteiro da OAS que incriminou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua primeira condenação, o caso do triplex, ainda não tiveram suas delações validadas pelo STF.
“Barraco tem nome e sobrenome”
A quebra de confiança, ao menos com a Lava Jato em Curitiba, parece ter acontecido em março deste ano, quando Dodge decidiu sobre o futuro do dinheiro de multas pagas pela Petrobras nos Estados Unidos (EUA). A chefe do MPF foi até o Supremo pedir a anulação do acordo firmado entre os procuradores e as autoridades norte-americanas que resultaria na criação de uma fundação para gerir os 2,5 bilhões de reais desviados por corrupção e devolvidos pela estatal aos cofres públicos.
Foi neste contexto que foi feita a afirmação do procurador Januário Paludo. “O barraco tem nome e sobrenome. Raquel dodge. O Oswaldo instaurou pgea para pedir informações sobre o acordo”, disse o procurador no grupo Filhos do Januário 4. Os diálogos foram mantidos tal e qual publicados, sem correções gramaticais. Ele se referia ao Procedimento de Gestão Administrativa (PGEA), uma medida administrativa utilizada pelo corregedor-geral do MPF, Oswaldo Barbosa, para ter acesso aos documentos sobre o documento.