Uma quantia de R$ 205 mil em espécie foi encontrada na manhã desta quinta-feira (25) na casa de um servidor do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). O dinheiro foi apreendido durante a operação Arquimedes, deflagrada pela Polícia Federal, com objetivo de identificar novos focos de desmatamentos na região Amazônica.
Para a operação, foram expedidos 23 mandados de prisão preventiva, seis de prisão temporária, 109 mandados de busca e apreensão cumpridos nos estados do AC, AM, MG, MT, PR, RO, RR, SP e no Distrito Federal, além da autorização de bloqueio de R$50 milhões nos CNPJ´s das empresas investigadas e outras 18 medidas cautelares.
O titular da Delegacia de Repreensão Contra Crimes ao Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, Caio Cesar, afirmou que o servidor, cujo nome não foi divulgado, tinha uma função bastante específica no órgão e utilizava das suas atribuições profissionais para favorecer madeireiros corruptos. O servidor foi preso hoje. A reportagem procurou o Ipaam e aguarda posicionamento.
“Encontramos R$ 205 mil, em espécie, na residência de um servidor do Ipaam. Dentro do órgão, ele exercia uma função específica e importante. Os processos de licenciamento de madeira passavam por ele para serem liberados. Neste momento, o servidor utilizava das suas atividades para barganhar com o empresário e ganhar dinheiro”, explicou o delegado.
As investigações da operação começaram em 2017, quando quase 3 mil quilômetros de madeira ilegal foram apreendidos no Porto de Manaus. Segundo o delegado, durante as diligências, foi verificado que servidores públicos, engenheiros e empresários estavam envolvidos no esquema de corrupção.
“A corrupção ocorria em vários pontos, mas os servidores faziam com que os madeireiros passassem na fila em relação ao licenciamento, além de oferecer facilidades na avaliação do processo, com obtenção de informações privilegiadas de fiscalizações que iriam acontecer. Por conta desses servidores, os madeireiros sabiam quando iriam acontecer as fiscalizações. Propinas eram pagas de formas diferentes”, disse o delegado.
Durante a operação, o ex-presidente do Ibama no Amazonas, Leland Barroso, foi preso. De acordo com o procurador do Ministério Público Federal do Amazonas, Leonardo Galiano, o ex-gestor do órgão público interferia nas ações do Ibama.
“Em 2017, quando aquela quantidade de madeira foi apreendida, estranhamos que Leland apareceu um “minuto depois” do ocorrido. Descobrimos que houve interferência dele para que o Ibama não fizesse essa fiscalização. Ele transferia a competência do Ibama para o Ipaam, segundo provas e testemunhas”, explicou.
Segundo a PF, a participação do ex-presidente do Ibama no esquema só é comprovada no quesito de interferência. Até o momento, não existe provas que Leland recebeu propina dos empresários.
Comercialização O procurador também destacou que as madeiras retiradas de forma ilegal na Amazônia seriam comercializadas no Brasil, nos Estados Unidos e em países da Europa. Por conta disso, a área mais afetada era a do Sul do Amazonas.
“Mesmo sendo considerada uma região problemática do ponto de vista do desmatamento, percebemos uma intensa infração no Sul do Amazonas. Segundo os dados oficiais, existia um crescimento de usurpação do território da União. Estavam retirando Madeira de áreas de conservação e terras indígenas. Entendemos que existia uma ausência de fiscalização do Ipaam e que essa Madeira seria comercializada no Brasil, EUA e na Europa”, completou.
Segundo o delegado da Polícia Federal, Felipe Lavareda, mais de 60 empresas em todo o Brasil faziam parte do esquema de corrupção. Hoje, foram bloqueados o valor de quase R$ 50 milhões dessas instituições privadas.
“Foi uma operação que aconteceu em diversas cidades do Brasil e 29 pessoas foram presas de forma preventiva e temporária. Também tivemos o cumprimento de quase mais de 60 mandados de busca e apreensão”, disse.