Advogado de investigado alega ‘ingenuidade’
A Polícia Federal (PF) apreendeu computadores usados por dois servidores da Receita Federal, em Campinas (SP) e Cachoeiro do Itapemirim (ES), para acessar dados do presidenteJair Bolsonaro e de familiares dele. A informação das buscas foiantecipada pelo colunista do GLOBO Lauro Jardim . A operação da polícia teve como ponto de partida uma investigação interna da própria Receita sobre acesso irregular a informações do presidente no sistema do Fisco.
Um dos alvos da investigação é Odilon Ayub Alves, lotado em uma unidade da Receita em Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Espírito Santo. Ontem, Odilon prestou esclarecimentos na Delegacia da PF de Vitória por cerca de uma hora e foi liberado. O teor das declarações não foi divulgado.
A Receita Federal informou, ontem à noite, que abriu sindicância para apurar as circunstâncias do acesso de dois servidores a “informações fiscais” de Bolsonaro e de integrantes de sua família. A suposta invasão foi descoberta em janeiro. De acordo com a Receita, a PF foi notificada após a constatação de que não havia “motivação legal” para os acessos.
Com base nas informações preliminares da Receita, a PF abriu inquérito e apreendeu computadores para aprofundar a apuração. A investigação pode levar à prisão dos servidores. O acesso às informações fiscais do presidente, independentemente da motivação, pode configurar delitos como abuso de autoridade, quebra de sigilo funcional e crime contra a Segurança Nacional. Os servidores também vão responder a Processo Administrativo Disciplinar na Receita Federal, que pode resultar em suas demissões.
O advogado Yamato Ayub, irmão de Odilon, disse que tudo não passou "de uma brincadeira" e começou quando o servidor estava atendendo um senhor de nome Jair na unidade da Receita onde trabalha, em Cachoeiro do Itapemirim. Segundo o advogado, o irmão brincou perguntando se o tal Jair tinha sobrenome "Bolsonaro".
— Ele acessou o sistema inadvertidamente para ver a data de nascimento do (presidente Jair) Bolsonaro. Foi curiosidade, infantilidade, ingenuidade. Não houve vazamento de dados. Não houve acesso a patrimônio. Tudo sem maldade. Vamos aguardar o resultado do inquérito — comentou.
De acordo com Yamato, o irmão fez a consulta no sistema da Receita Federal em outubro do ano passado, quando Bolsonaro era candidato à Presidência. O nome de Bolsonaro permanece em constante vigilância após o atentado sofrido em setembro de 2018, em Juiz de Fora (MG).
Henedina Ayub, uma das irmãs de Odilon, também procurou minimizar o impacto das ações do irmão ao comentar o fato em uma rede social.
“Só na cabeça dele (Odilon) usar o computador da Receita para saber dados do Bolsonaro. Sabemos que tem pessoas que torciam que fosse roubo ou até propina pelo fato de ser da Receita”, escreveu.
Odilon é irmão da deputada federal Norma Ayub (DEM-ES). Em nota, a deputada declarou não ter nenhuma relação com o caso.
"Esclarecemos ainda que o irmão não foi incriminado, apenas foi prestar esclarecimentos em uma investigação. Trata-se de um caso isolado do Odilon, sem nenhuma relação com a atividade parlamentar de Norma Ayub", afirmou a nota.
A Superintendência da Polícia Federal no Espírito Santo informou, em nota, "que não comenta eventuais investigações em andamento".