Chamada para ser laranja, Zuleide Oliveira prestou depoimento no último dia 19
Em depoimento à Polícia Federal, a candidata Zuleide Oliveira, 42, disse que Marcelo Álvaro Antônio (PSL), hoje ministro do Turismo de Jair Bolsonaro (PSL), pediu que ela devolvesse ao partido parte do dinheiro público do fundo eleitoral.
A Folha revelou em fevereiro o escândalo de candidaturas de laranjaspatrocinadas pelo PSL e mostrou o caso de Zuleide no início de março.
A denúncia de Zuleide foi a primeira a implicar diretamente o ministro no esquema. Com a formalização do relato à autoridade policial, o titular do Turismo passa formalmente a ser alvo da investigação.
A integrante da sigla foi ouvida por cerca de duas horas na última terça-feira (19), na cidade de Varginha, em Minas Gerais. A investigação está sob sigilo.
A candidata entregou o celular dela à PF, que teria troca de mensagens de texto e de áudio com assessores do ministro.
Marcelo Álvaro Antônio era presidente do PSL de Minas durante a eleição do ano passado.
“Ela confirmou à delegada a reunião feita, [em] que estavam ela, o deputado [Marcelo Álvaro Antônio] e mais três pessoas no gabinete do deputado, e que o deputado fez a proposta a ela: ‘para o financiamento de campanha, vem do fundo partidário R$ 60 mil e você restitui ao partido R$ 45 mil. Usa R$ 15 mil para sua campanha e mais os santinhos que o partido vai te fornecer’”, afirmou à Folha o advogado da candidata, Renato Delavia.
“Estavam [na reunião] ela [Zuleide], um policial civil aposentado, o marido da Zuleide, o deputado e um assessor do deputado”, completou.
Álvaro Antônio sustenta que a acusação é mentirosa e que cumpriu a legislação eleitoral. O presidente Jair Bolsonaro tem dito que a permanência do ministro no cargo depende das investigações em andamento e que a situação causa desgaste no governo.
Zuleide não chegou a receber o dinheiro supostamente oferecido por Álvaro Antônio. Extratos bancários foram apresentados durante o depoimento.
Segundo a defesa da candidata, ela também disse à PF que o partido garantiu que ela conseguiria concorrer na eleição, apesar de ter sido condenada criminalmente em 2016 por causa de uma briga com outra mulher.
À Folha Zuleide afirmou que o PSL sabia que a candidatura não iria dar em nada e que ela só foi usada como laranja.
“Ela disse à delegada que comunicou o partido da condenação assim que sondada. Em contrapartida, o partido garantiu a ela que a candidatura dela sairia. Que ela estaria ilesa, porque ela havia conseguido a suspensão condicional da pena e os dirigentes disseram a ela que isso serviria para garantir os direitos políticos”, disse Delavia.
Em 4 de fevereiro, reportagem da Folha revelou que o ministro do Turismo de Bolsonaro patrocinou um esquema de candidaturas de laranjas que direcionou verbas do PSL para empresas ligadas ao seu gabinete na Câmara.
Em 10 de fevereiro, outra reportagem da Folha mostrou esquema semelhante em Pernambuco, sob comando do deputado Luciano Bivar (PSL-PE).
O caso dos laranjas levou à queda de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência. Ele era presidente nacional da legenda durante a eleição e responsável formal pela distribuição do dinheiro do partido.
O esquema é investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público de Minas Gerais.
“O depoimento foi cheio de detalhes. Ela juntou elementos para cada fato narrado, apresentou provas. Foi muito esclarecedor. Não houve impasse nem contradição apontada pela polícia. Durou quase duas horas. Ela narrou de forma muito contundente”, disse Delavia.
No início de março, o procurador-regional eleitoral de Minas Gerais, Angelo Giardini de Oliveira, instaurou uma investigação para apurar indícios de caixa dois na campanha do PSL-MG.
A investigação tem como um dos pressupostos a não declaração, pelo partido, da confecção de cerca de 25 mil santinhos da candidata Zuleide Oliveira.