Campanhas de 8 dos 14 deputados integrantes da comissão receberam, direta ou indiretamente, dinheiro das empresas nas eleições de 2014
Dos 14 deputados estaduais de Minas escalados para investigar os fatos relacionados ao rompimento da barragem Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, oito tiveram suas campanhas, em parte, financiadas por mineradoras nas eleições de 2014.
Aquele pleito foi o último em que as empresas privadas poderiam fazer doações às campanhas e, ao todo, as mineradoras repassaram, direta ou indiretamente, R$ 565 mil aos parlamentares que farão parte da CPI das Barragens na Assembleia de Minas. O levantamento foi feito pela reportagem do R7 com base nas prestações de contas que as próprias campanhas dos deputados enviaram à Justiça Eleitoral na ocasião e incluem o presidente da comissão, Gustavo Valadares (PSDB) e o relator, André Quintão (PT), além de outros titulares e suplentes da comissão. A campanha de Valadares recebeu R$ 65.753,00 naquela eleição. A mineradora Salobo, ligada à Vale, responsável pelas operações da barragem que rompeu em Brumadinho, repassou R$ 60 mil e a ArcelorMittal, outros R$ 5 mil. O deputado também recebeu, de forma indireta, ou seja, via repasses de campanhas de outros candidatos, R$ 724 da CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração) e R$ 29 da Empresa de Mineração Esperança. Já a campanha de Quintão recebeu, indiretamente, por meio de 11 depósitos, do comitê financeiro do PT e das campanhas dos deputados Patrus Ananias, Reginaldo Lopes e Miguel Corrêa, do mesmo partido, um total de R$ 79.160,00. Os repasses vieram das empresas ArcelorMittal, Cia Metalurgia e Mineração e da MBR.
Repasses
As doações feitas por mineradoras nas eleições de 2014 também estiveram presentes na campanha do deputado Cássio Soares (PSD), que registrou na Justiça Eleitoral doações indiretas no valor de R$ 478,50 das empresas CBMM e Empresa Mineração Esperança.
Quatro suplentes também enviaram ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) recibos de repasses feitos por mineradoras às suas campanhas. Sávio Souza Cruz (MDB) recebeu R$ 180 mil em doações diretas à sua campanha e outros R$ 90 mil de forma indireta. Os repasses saíram dos cofres de empresas como Anglo, Empresa Mineração Esperança, Gerdau e CBMM.
João Vitor Xavier (PSDB) recebeu R$ 81 mil, indiretamente, da CBMM, U&M Mineração e Construção e Gerdau. O deputado Ulysses Gomes (PT) registrou repasses indiretos da MBR, Mineração Corumbaense e Vale Energia, em depósitos que somaram R$ 68 mil. A campanha de Doutor Wilson Batista (PSD) recebeu, também de forma indireta, R$ 990 da Vale Energia, empresa ligada à Vale.
Por fim, Celinho do Sinttrocel (PCdoB) teve R$ 7,31 em repasses da CBMM registrados em sua prestação de contas, de forma indireta.
Respostas A assessoria do deputado Gustavo Valadares (PSDB), que vai presidir a CPI informou que não há incoerência por parte do parlamentar. Em nota, Valadares afirmou que é “representante do cidadão” e que o “que aconteceu em Brumadinho foi um crime e será tratado com o máximo rigor pela CPI”. O deputado André Quintão (PT) entrou em contato com a reportagem para esclarecer que as doações foram legais e feitas de forma indireta, e que nesses casos, o candidato só fica sabendo quem doou após a campanha. Quintão também esclareceu que não tem qualquer compromisso com o setor de mineração. Em nota, a assessoria do deputado Cássio Soares (PSD) disse que o parlamentar não recebeu dinheiro de mineradora em sua campanha eleitoral. “O valor que aparece na prestação de contas do deputado é um valor estimado, vindo da campanha de dois candidatos a cargos de deputado federal e governador, para pagar material de campanha feito em conjunto”. Por email, a assessoria do deputado João Vitor Xavier (PSDB) também negou que a campanha do parlamentar tenha recebido recursos nas eleições daquele ano. “Quem recebeu a doação foi um deputado federal que tinha uma ‘dobrada’ com ele em um município”, mas que pela legislação eleitoral, o deputado também deveria lançar as despesas em sua prestação de contas. A assessoria do deputado Dr. Wilson Batista (PSD) afirmou que ele não recebeu nada de mineradoras, que o valor que consta na sua prestação de contas foi por “terceira via”. “Quem recebeu foi a campanha do governador do estado e tive que declarar por exigência legal”.
A assessoria do deputado Ulysses Gomes (PT) enviou nota para afirmar que não recebeu doação direta de mineradoras e que sua atuação na comissão "será pautada pela independência e pelo rigor na apuração do crime cometido pela Vale em Brumadinho".
Os deputados Sávio Souza Cruz (MDB) e Celinho do Sinttrocel (PCdoB) não retornaram ao contato da reportagem.