Ela estava no carro com Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes no momento dos tiros
“A gente chegou agora a este marco inacreditável de um ano do assassinato da Marielle sem que se tenha o criminoso responsabilizado, e eu resolvi falar porque na verdade eu não tenho porque me esconder”. As palavras são da jornalista Fernanda Chaves, assessora da vereadora assassinada em 14 de março de 2018, em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo. Ela estava no carro com Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes no momento dos tiros e foi a única sobrevivente dos três. “Essa coisa da sobrevivente foi muito marcante para mim. A primeira vez em que eu ouvi esse termo foi exatamente no dia. O policial comunicava a algum lugar: ‘São dois mortos e uma sobrevivente’. E isso foi muito impactante”, disse ela.
Na entrevista, Fernanda confirmou que não viu nada. E falou do medo que sentiu na hora: “Eu achava que podia (ter levado um tiro), afinal, eu estava dentro de um carro que foi metralhado no Centro, às 21h, do lado da prefeitura, debaixo de uma câmera, numa cidade que estava sob intervenção federal. Se nessas circunstâncias, ao lado de uma vereadora, o carro foi metralhado, você fica com a sensação de que a qualquer momento pode ser metralhada”.
A assessora de Marielle afirmou ainda que tinha certeza de que o crime seria rapidamente esclarecido. E contou como foi a mudança de país: “Você se depara com muitas privações, com muitas perdas. Você perde sua amiga, sua colega de trabalho, sua chefe, a vereadora da sua cidade, a madrinha da sua filha. Aí, você é impedida de vivenciar o ritual de despedida”.
Fernanda disse que Marielle não tinha inimigos, mas que existiam “figuras que poderiam estar num campo oposto politicamente, ideologicamente”.
“Marielle despertava ódio nos machistas, nos racistas. Havia vereadores que se incomodavam com a presença dela. Não era uma coisa pessoal. Eles se incomodavam de ter uma mulher favelada, negra, lésbica naquele espaço”, contou a assessora, acrescentando que tinha gente que não gostava nem de entrar no mesmo elevador que a vereadora.
E finalizou: “O crime da Marielle foi um atentado político. Não tenho a menor dúvida disso. Ela foi morta pelo que representava, pelo que trazia no próprio corpo: uma mulher negra, favelada, lésbica”.