PF destacou nomes de investigados em registros de reuniões do ex-ministro na Projeto Consultoria e questionou secretária sobre os alvos para reforçar revelações de corrupção feitas em delação premiada
A Polícia Federal analisou a agenda de compromissos de Antonio Palocci em sua empresa Projeto Consultoria e ouviu a sua secretária de confiança. O ex-ministro da Fazenda e Casa Civil confessou em delação premiada fechada com a Operação Lava Jatoque controlava para o PT a contas de propinas e que usou a consultoria para receber recursos. No material, há citações de reuniões e encontros com empresários, políticos e banqueiros.
O material anexado na última semana aos inquéritos em Curitiba serve de prova de corroboração do que afirma o delator sobre acertos de corrupção que beneficiaram o PT e os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, em especial.
O período abrangido pela análise destaca compromissos entre 2007 e 2010, quando era deputado federal, consultor e coordenador da primeira campanha de Dilma Rousseff, capitaneada pelo então presidente, Lula.
São 73 páginas em que os analistas da Lava Jato destacam os registros de compromissos com alvos investigados. Entre eles, estão os nomes de Lula, do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, dos delatores Emílio Odebrecht e o filho Marcelo Odebrecht, e Otávio Marques Azevedo (ex-Andrade Gutierrez).
O delegado da PF Filipi Hille Pace, responsável pelo o acordo de delação premiada fechado em março de 2018 com Palocci, apura a corrupção nas obras de Belo Monte, que teria rendido propina de R$ 135 milhões, divida em parte iguais entre PT e MDB, e corrupção no projeto de construção de navios-sondas no Brasil para exploração do petróleo do pré-sal. Os casos têm relação com um mesmo período, o fim dos governo Lula e a eleição e reeleição de Dilma.
Palocci delatou os ex-companheiros petistas no acordo homologado com a Lava Jato homologado em junho de 2018 pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4). Nos termos fechados com a PF, colaborou em cinco frentes de investigação abertas em Curitiba na Lava Jato, mas se comprometeu a delator outros fatos em outras apurações.
O delator fechou outros dois acordos desde então: um envolvendo alvos com foro privilegiado, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e outro com o Ministério Público Federal, em Brasília. O delator disse que a Projeto foi usada, em alguns casos, nos negócios ilícitos e relatou suas reuniões com empresários, políticos e banqueiros para os investigadores da Lava Jato.
Além do PT, declarou nos termos que pode falar também sobre corrupção envolvendo políticos do MDB, em especial relacionado à obra de Belo Monte.
A secretária apontou quem ela reconhecia e quem não de um total de 14 nomes listados pelo delegado da Lava Jato. Entre eles, Lula, Emílio Odebrecht, o banqueiro André Esteves (BTG) – que nega qualquer irregularidade – e o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula e envolvido em dois casos em que o petista é réu, o do sítio de Atibaia (SP) e da compra do terreno para o Instituto Lula – ambos com julgamento próximo na Justiça Federal em Curitiba.
A secretária foi ouvida em setembro do ano passado, mas cópia de seu depoimento e a análise da agenda da Projeto foram anexados aos inquéritos nesta terça-feira, 29. Ela disse que Lula e Dilma “nunca estiveram na sede da empresa”, no entanto, relatou “frequentes encontros com Lula na sede do Instituto Lula”. “Com o passar dos anos, os encontros de Palocci e Lula o instituto passaram a ocorrer com maior frequência.” Falou ainda que não se lembrava de Esteves na Projeto, que ele não era uma “pessoa de relacionamento continuo com Palocci”, mas respondeu “se recordar que houve algumas tratativas para encontros entre ambos”. O nome do banqueiro não aparece nas agendas de reuniões do período.
Palocci não é um colaborador qualquer. Na fundação do PT, em 1980, ele estava lá! Nas primeiras eleições de prefeitos petistas, nos idos dos anos de 1990, ele estava lá. Na campanha de 2002, quando Lula seria eleito presidente do Brasil, ele estava lá. Na redação da Carta ao Povo Brasileiro que constituía o caminho para a vitória, ele estava lá. Na formação do primeiro time de governo do PT, ele estava lá, num dos postos mais altos do organograma. Na reeleição, em 2006, mesmo sob holofotes menos potentes, ainda estava lá. Na eleição da sucessora Dilma, em 2010, estava lá, foi da coordenação da campanha. Na equipe primeira do governo Dilma, ele estava lá, despachando na antessala do gabinete presidencial.
Preso em outubro de 2016 pela Lava Jato, agora é o algoz do PT, de Lula, Dilma e outros ex-companheiros de partido. Em 2017, ao completar um ano de prisão, Palocci pediu desfiliação do partido com sua histórica carta ao PT, em que cobrou dos ex-aliados a admissão de culpa no esquema de corrupção. Primeiro delator do núcleo duro de comando político do esquema de corrupção na Petrobrás, ele alertava que iria contar o que sabia e falar sobre sua participação e de Lula nos desvios em depoimentos à Justiça e na histórica Carta ao PT, em que reconhece os desvios.
Condenado a 12 anos de prisão em 2017, pelo então juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, ele teve a pena reduzida para 9 anos pelo TRF-4 e ganhou o direito de ir cumprir o resto da pena em casa, monitorado por tornozeleira eletrônica, após a delação.
A delação de Palocci tem sido conhecida aos poucos. Dois termos numerados do acordo homologado em junho pelo TRF-4 já são conhecidos. Outros depoimento adicionais prestados como parte do acordo às autoridades policiais e da Procuradoria citam o ex-ministro Guido Mantega, José Sérgio Gabrielli, entre outros.