Força de Defesa de Israel levou 130 homens e equipamento de ponta para MG, mas brasileiros dizem que material não serve para buscas na lama
Desde que Jair Bolsonaro (PSL) se lançou candidato à Presidência da República, ele começou a se aproximar de Israel. Antes mesmo de ser eleito, o militar reformado do Exército prometeu mudar a embaixada brasileira no país de Tel-Aviv para Jerusalém. Eleito, confirmou a intenção, sem, contudo, fixar uma data para adotar a medida. O agradecimento veio em forma de prestígio: Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro da nação do Oriente Médio, foi o primeiro líder mundial a confirmar presença na posse de Bolsonaro e, em 1º de janeiro, estava em Brasília.
Os laços de amizade entre os dois chefes de Estado fizeram ainda com que Netanyahu oferecesse ajuda ao Brasil quando a barragem do Córrego do Feijão, em Minas Gerais, rompeu na última sexta-feira (25/1). Alegando ter equipamentos de ponta para ajudar no resgate das vítimas da tragédia ambiental, o governo israelense cedeu, além de equipamentos, cerca de 130 soldados e oficiais da Força de Defesa de Israel (IDF). Mas o trabalho entre as equipes estrangeiras e brasileiras não tem sido harmonioso.
“O objetivo principal é localizar e resgatar pessoas desaparecidas na região, portanto as equipes de busca e resgate realizarão todos os esforços necessários para tal. Teremos o auxílio de equipamentos que incluem meios avançados de localização de celulares, radares submarinos e aviões, a fim de ter maior controle da situação”, afirmou o exército israelense, quando os militares deixavam o país rumo ao Brasil.
Na noite de domingo (27), o avião pousou em Belo Horizonte e, nesta segunda (28), os israelenses seguiram para Brumadinho, cidade a pouco mais de 60 km da capital mineira e onde fica a barragem Mina do Feijão, que rompeu na sexta-feira, alagando parte da cidade e arrastando pessoas, animais e veículos. Muito aguardados, os soldados israelenses (de verde na foto em destaque na e galeria abaixo) e seus equipamentos foram recebidos com festa pelos especialistas brasileiros que trabalham no local, moradores e famílias atingidas pela tragédia.
No entanto, no fim do dia, bombeiros afirmaram que os equipamentos trazidos de Israel para Brumadinho “não são efetivos para esse tipo de desastre ambiental”.
Divergência Ao jornal Folha de São Paulo, o comandante das operações de resgate, tenente-coronel do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais Eduardo Ângelo, explicou o porquê de a tecnologia israelense não ajudar. “O ‘imagiador’ que eles têm pega corpos quentes, e todos os corpos [na região] são frios. Então, esse já é um equipamento ineficiente”, argumentou.
Indagado sobre como os outros equipamentos israelenses poderiam ser usados nas buscas pelas vítimas soterradas e sem vida, o comandante afirmou: “Dos equipamentos que eles trouxeram, nenhum se aplica a esse tipo de desastre”.
Em conversa com o Metrópoles, a Força de Defesa de Israel deu uma versão totalmente diferente para a atuação de sua equipe no município mineiro. “As tropas do exército [israelense] estão empregando várias técnicas de resgate ao mesmo tempo que utilizam todas as capacidades e tecnologias de resgate do Comando de Frente. Entre elas estão dispositivos de localização celular, construção de estruturas destinadas ao trabalho na água e técnicas adicionais de busca”, detalhou a porta-voz de Israel para a América Latina, Paula Frenkel.
“Encontramos vários corpos hoje” Ainda segundo os bombeiros de Minas Gerais, os equipamentos israelenses poderiam ser eficazes para a localização de sobreviventes, pois, de acordo com a corporação, servem para captar o calor humano. Porém, como nenhum sobrevivente foi localizado pelas buscas nas últimas 48 horas, seria inútil para o resgate de corpos.
O que faz [constituir] a imagem é a temperatura. Quando a temperatura está homogênea, é como se não houvesse nada no solo"
Tenente-coronel do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais Eduardo Ângelo
Já a comunicação do exército israelense garante que eles encontraram “vários corpos nesse primeiro dia de trabalho”. “A delegação israelense está operando em total cooperação com as forças locais brasileiras a fim de evacuar uma série de corpos que foram localizados em um ônibus levado na enchente. Hoje cedo [segunda, dia 25], as forças israelenses detectaram e resgataram vários corpos no campo”, completou a porta-voz de Israel.
Desastre A barragem Mina Feijão, em Brumadinho, rompeu-se por volta das 13h de sexta-feira (25/1). O vazamento de lama fez com que uma outra barragem da Vale transbordasse. O restaurante da companhia foi soterrado, assim como o prédio administrativo da mineradora.
A lama se espalhou pela cidade, e moradores precisaram deixar suas casas. Equipes de bombeiros e da Defesa Civil foram mobilizadas para a área e estão em busca de vítimas. Tanto o governo federal quanto o local (do município e do estado) montaram gabinetes de crise e deslocaram autoridades para a região. Até agora, 81 mortes foram confirmadas e 19 corpos estão identificados.
Segundo o porta-voz do Corpo de Bombeiros, apesar de remota, ainda existe a possibilidade de os socorristas encontrarem pessoas com vida. Eles têm usado cajados e se arrastado pela lama em busca de sobreviventes e corpos. A estimativa é que os trabalhos durem ao menos até julho. Os bombeiros explicam que o serviço está sendo feito em etapas. Primeiramente, os helicópteros sobrevoam a região à procura de pessoas ou animais.
“Estou me guiando pelo cheiro. Como já tem quatro dias, acho que assim vai ser mais fácil encontrar”, disse o agricultor aposentado Jair Ferreira dos Santos, de 60 anos, que caminha há três dias em busca do corpo do irmão, Paulo Santos, 40, morador de um sítio próximo à barragem que se rompeu.