Média de gastos dos deputados com a cota, nos meses seguintes à eleição, foi de R$ 87,7 mil por aqueles que se reelegeram e R$ 89 mil por quem não se reelegeu
Deputados federais não reeleitos que vão trabalhar no segundo escalão do governo Bolsonaro usaram R$ 400 mil dos cofres da Câmara após o fracasso nas urnas, a título de divulgação das ações de seus mandatos.
Os dois que mais gastaram direcionaram verbas em torno de R$ 92 mil, cada um, para empresas que trabalharam em suas campanhas eleitorais.
Leonardo Quintão (MDB-MG), segundo notas fiscais apresentadas, declarou ter usado o dinheiro para imprimir informativos de medidas provisórias votadas pelo Congresso, como a que tratou do financiamento para as Santas Casas.
A empresa contratada é a Gráfica Pampulha, a mesma que lhe prestou serviços eleitorais ao custo de R$ 475,6 mil. Ele se candidatou à reeleição, mas fracassou nas urnas. Agora, trabalhará na Casa Civil auxiliando o ministro Onyx Lorenzoni.
O deputado não respondeu às perguntas feitas pela reportagem.
Um dos principais aliados de Bolsonaro durante a campanha, o deputado Carlos Manato (PSL-ES) também está na equipe de Onyx.
Ele perdeu a disputa para o governo do Espírito Santo e, após a derrota, gastou R$ 92 mil na empresa Gráfica e Editora JEP para a confecção de 100 mil exemplares de jornais de divulgação de seu mandato, 32 mil a mais do que o número de eleitores que, em 2014, o conduziram à Câmara.
O jornalzinho intitulado "Prestando Contas 2018" tem oito páginas e traz relato de que Manato foi o deputado que mais presidiu sessões no plenário da Câmara, entre outros textos.
Em quatro páginas há fotos do deputado com a família Bolsonaro. Na última página o jornalzinho anuncia: "Mesmo sem mandato, Manato mantém compromisso com o Espírito Santo".
A empresa fez trabalhos para a campanha do deputado ao governo do estado, ao custo declarado de R$ 342 mil. O candidato derrotado acabou ficando com dívidas eleitorais com a gráfica, mas diz que ela está registrada na Justiça Eleitoral em nome do seu partido, que assumiu o compromisso de quitar o débito em março.
Ele nega relação entre o que foi feito na eleição e o trabalho para o seu mandato, na Câmara.
"Não teve relação, trabalho com ela já há alguns anos, mesmo quando não era a gráfica que eu trabalhava na campanha. Ela sempre me deu os
melhores preços, me dava as melhores condições", diz o deputado, que encaminhou cópia do jornal
e da transferência bancária que fez para a empresa.
Ele afirma que o informativo foi distribuído em diversos lugares do estado. "Eu sempre fiz, de três em três ou quatro em quatro meses um informativo. Se você olhar aí nos gastos da cota, comida, zero, hospedagem, zero, gasolina, quase nada", diz Manato.
A cota parlamentar da Câmara destina a cada um dos 513 parlamentares valores que vão de R$ 30,8 mil a R$ 45,6 mil, a depender do seu estado de origem. Ela se destina a gastos como aluguel de escritório, alimentação, hospedagem, divulgação do mandato, consultorias, entre outros. O saldo não usado pode ser acumulado para uso nos meses seguintes.
A média de gastos dos deputados com a cota, nos meses seguintes à eleição, foi de R$ 87,7 mil por aqueles que se reelegeram e R$ 89 mil por quem não se reelegeu.
Quintão gastou R$ 144 mil com toda a cota nesses meses. Manato, R$ 124 mil.
Outros dois parlamentares derrotados nas urnas, mas empregados por Bolsonaro, também gastaram um valor da cota bem acima dessa média. Tia Eron (PRB-BA), que também não respondeu às perguntas enviadas, -será a secretária nacional de Políticas para as Mulheres no ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos- gastou R$ 117,5 mil.
Lelo Coimbra (MDB-ES), responsável pela secretaria Especial de Desenvolvimento Social no Ministério da Cidadania, R$ 124 mil. "Trata-se de uma prestação de contas dos mandatos exercidos. Nos 12 anos como deputado federal estabeleci intensa relação com o conjunto dos municípios do meu estado", afirmou o deputado. Com informações da Folhapress.