Médium é acusado por centenas de mulheres de abuso sexual; defesa nega acusações. Justiça recusou novo pedido de liberdade nesta terça-feira
João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, completa um mês de prisão nesta quarta-feira (16). O médium — denunciado por centenas de mulheres de abuso sexual durante os atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, interior de Goiás — alega inocência.
As primeiras denúncias contra o médium começaram a surgir no início de dezembro do ano passado. A coreógrafa holandesa Zahira Leeneke Maus foi a primeira a mostrar o rosto e a apresentar a denúncia. Ela participou de uma consulta com João de Deus em 2014.
Depois dela, outras mulheres também fizeram denúncias. Os relatos das vítimas que acusavam os abusos continham situações e métodos parecidos entre eles. João de Deus alega inocência desde o início.
Situação de João de Deus
Na última terça-feira (15), o médium foi denunciado por novos crimes de estupro de vulnerável e abuso sexual mediante fraude durante atendimentos espirituais realizados em Abadiânia. O MP ainda fez um novo pedido de prisão baseado em crimes que envolvem quatro mulheres de Goiás e uma de São Paulo. Também nesta terça-feira, a Justiça negou novo pedido de habeas corpus para o médium.
O que diz a defesa de João de Deus
Ao R7, o advogado criminalista Alberto Toron, que defende o médium, falou sobre a nova denúncia do Ministério Público.
"Chega a ser medonho o que os membros do MP estão fazendo no caso João de Deus. Não nos dão vista de nada, marcam interrogatório um dia antes no próprio MP, a defesa é obrigada a ler tudo em 20 minutos antes do interrogatório", afirmou. "Ele é ouvido e a denúncia (que já estava pronta) é protocolizada na manhã seguinte. É a antítese do que deve ser um processo no Estado democrático de Direito", concluiu.
A nova denúncia do MP contra o médium desta terça conta ainda com relatos de mais oito mulheres do Distrito Federal, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão e Rio Grande do Sul. Porém, ele não foi denunciado por esses casos porque os crimes já tinham prescrito. Os casos, no entanto, ajudaram na denúncia.
O MP protocolou a denúncia no Fórum de Abadiânia às 11h30. Os promotores alegaram que o novo pedido de prisão preventiva serve para proteger as vítimas das próximas fases de depoimentos.
A primeira denúncia do Ministério Público contra João de Deus foi em 28 de dezembro. O médium foi denunciado por violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável. Na última quarta-feira (9), a Justiça acatou a denúncia e, com isso, o médium virou réu.
João de Deus já foi ouvido três vezes desde que se entregou às autoridades em 16 de dezembro: duas pela Polícia Civil e uma pelo MP-GO. Em todos eles o médium alegou inocência e negou que tenha praticado tais crimes.
Na última quarta-feira (2), João de Deus passou mal e foi levado às pressas para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Na quinta-feira (3), teve alta e voltou para o Núcleo de Custódia, no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (GO), onde está preso.
Outros crimes
Durante as buscas nas casas de João de Deus, foram encontradas armas, esmeraldas e malas de dinheiros. A Justiça de Goiás concedeu habeas corpus pelo porte ilegal de arma. O médium, no entanto, continua preso por ser investigado pelos crimes de estupro, estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude. Para esses crimes, o habeas corpus foi negado.
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O MP recebeu mais de 600 e-mails com denúncias contra o médium. As mulheres que denunciaram João de Deus têm idade entre 9 e 67 anos.
Até o momento, a Polícia Civil colheu depoimentos de 16 mulheres. O Ministério Público, porém, já ouviu mais de 100.
Na última quinta-feira (10), o médium e a mulher dele, Ana Keyla Teixeira, foram indiciados por posse ilegal de armas.
Depoimentos e denúncias após a prisão
João de Deus foi preso em 16 de dezembro de 2018 e prestou um depoimento na Deic (Delegacia Estadual de Investigações Criminais), em Goiânia, sobre as suspeitas de crimes sexuais.
Em 26 de dezembro do ano passado, foi ouvido pelo MP-GO sobre as acusações. Dois dias depois, em 28 de dezembro, o Ministério Público fez a primeira denúncia por violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável baseado em quatro vítimas. Ele virou réu em 9 de janeiro.
Em 9 de janeiro deste ano, João de Deus foi ouvido na prisão sobre as armas que foram encontradas em seus endereços durante os mandados de busca e apreensão. No dia seguinte, ele e a mulher foram indiciados por posse ilegal de armas.
A defesa tinha entrado com um pedido de habeas corpus para o médium em relação ao mandado de prisão sobre os crimes de abusos sexuais que tramitavam no STF (Supremo Tribunal Federal), mas desistiu alegando uma nova estratégia de defesa.
João de Deus ainda teve o bloqueio de R$ 50 milhões em dinheiro e imóveis em 9 de janeiro.