Após noticiar as ameaças ao presidente eleito, Metrópoles foi procurado por intermediário do grupo, que revelou detalhes da organização
Em nova postagem nas redes sociais, neste sábado (29/12), o grupo que reivindica a autoria do ataque à bomba contra uma igreja de Brazlândia e ameaça fazer um atentado durante a posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), afirma ter entre seus alvos a futura ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, e o presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o cardeal Dom Sérgio da Rocha.
“Talvez acabem eles, como o padre Ruben Díaz Acántara, antigo representante máximo da igreja Nuestra Señora del Carmen, em Cuautitlán Izcalli, Estado do México”, ameaçam. O religioso foi morto em abril deste ano, a facadas, dentro da igreja. Segundo os supostos terroristas, a execução foi feita por integrantes da célula que atuam em território mexicano.
O grupo, procurado por forças policiais do DF e federais, é organizado, possui armas, explosivos, e teria contato com extremistas de outros países. As informações são de um suposto intermediário dos terroristas, que se autodenominam Sociedade Secreta Silvestre.
O Metrópoles tenta contato com a CNBB e com Damares Alves para que se manifestem sobre as ameaças.
Intermediário Após noticiar, em primeira mão, a existência da suposta ameaça terrorista, a reportagem foi procurada nessa sexta-feira (28) por um intermediário do grupo – ele explicou no que consiste a organização e respondeu a 10 perguntas. O homem, que se identificou como “Pedro”, encaminhou o texto via e-mail por meio de um navegador impossível de rastrear, geralmente utilizado para trafegar na chamada deep web, a parte sombria da internet composta por várias redes separadas que não conversam entre si.
Para garantir a veracidade das informações e confirmar que faz parte do suposto grupo terrorista, o intermediário encaminhou um arquivo de vídeo mostrando detalhes da bomba deixada no Santuário Menino Jesus, antes de o dispositivo ser detonado pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, na madrugada do Natal (25).
Pedro revelou que o grupo foi responsável, desde 2016, por pelo menos seis ataques em território nacional. Entre eles, a explosão de uma panela de pressão carregada com pólvora e pregos ocorrida em frente ao shopping Conjunto Nacional, em 1º de agosto, na véspera das Olimpíadas do Rio de Janeiro.
No e-mail, o homem ainda fez pouco caso das forças policiais: “Soubemos depois que tentaram nos buscar, mas a competência foi baixa e seguimos impunes e conspirando”.
Ataque a Bolsonaro O intermediário assegurou que novos ataques irão ocorrer, porém deixou em aberto um atentado durante a posse de Bolsonaro.
“Nosso alvo não é apenas Jair Bolsonaro. Por mais que tenhamos um ódio particular a este estúpido devido às suas posições em relação ao meio ambiente, nosso objetivo é muito maior do que ele. Deixamos subentendido que podemos atacar durante a posse, mas essa é uma informação sensível que não podemos detalhar. O que podemos dizer é: nós temos, sim, capacidade de fazer um atentado no dia 1º de janeiro e causar grandes danos e mortes”, ameaçou.
Pedro não quis revelar quantos integrantes o grupo tem no Brasil nem em quantos estados a suposta célula terrorista está presente. No entanto, afirmou que Bolsonaro não é o único alvo do grupo e que novos ataques virão.
“Nossos objetivos contra Bolsonaro, seus filiados, apoiadores e simpatizantes partem de uma perspectiva antipolítica e de vingança por suas posições em relação à natureza selvagem. Pode ser ele ou pode ser qualquer um que esteja lá, o que for mais oportuno para nós. Talvez ataquemos, talvez concentraremos as nossas forças em outro grande ataque próximo”, destacou.
Articulado com as palavras e ressaltando, em vários momentos, ter à disposição grande poder de fogo, o interlocutor do grupo extremista disse que os integrantes da organização pertencem a um projeto internacional denominado Individualistas Tendendo ao Selvagem (ITS), que estaria presente em diversos países da América Latina e da Europa. “Estamos por aí, em tocaia, e cada um faz a sua parte. Normalmente, alguns de nós sempre andam de estado em estado”, revelou.
Roubos e armamento Sobre as perguntas relacionadas aos armamentos que a suposta organização terrorista possui e como conseguem captar recursos para realizar os ataques, Pedro explicou que o grupo comete uma série de crimes para conseguir dinheiro.
O dinheiro faturado com a prática de crimes seria usado para comprar “pistolas, revólveres, metralhadoras, artefatos explosivos caseiros, explosivos militares, facas, soqueiras, machados e até mesmo flechas e venenos”. E acrescentou: “Também utilizamos muito o fogo em nossos atentados”.
Questionado sobre o perfil dos integrantes do grupo e como as pessoas são recrutadas, o interlocutor da Sociedade Secreta Silvestre disse que não há um modelo padrão. “Somos individualistas, oportunistas infiltrados na civilização esperando a brecha para atacar e provocar o caos. Não nos unimos a qualquer um. Somos um grupo hermético, forjado à base de confiança e sangue.”
Falha da bomba A reportagem perguntou ao intermediário sobre o atentado frustrado na igreja de Brazlândia, já que o artefato não detonou e o Bope precisou agir para destruí-lo. O interlocutor refutou a informação de que uma possível falha no acionador pode ter impedido a explosão.
Segundo ele, integrantes do grupo haviam testado todos os dispositivos da bomba de forma exaustiva. “O timer sempre demonstrou completa funcionalidade. Talvez uma carga baixa da bateria impediu que os dois ignitores fossem acionados. Eles são os responsáveis por fazer explodir a pólvora. Após vários testes, uma vez isso nos aconteceu, a carga da bateria passou a ser insuficiente para ativar os ignitores, então tivemos que trocá-la. Talvez possa ter acontecido novamente”, explicou.
Pedro revelou que o planejamento para o ataque contra a igreja de Brazlândia havia sido feito de forma meticulosa. “Nós tínhamos em mãos todo o horário do santuário, sabíamos o momento em que os fiéis entravam e saíam do local. Programamos para que a explosão ocorresse após a saída dos fiéis. Cerca de 1 mil pessoas estavam no local. Haveria um massacre”, finalizou.
Forças federais As ameaças a Bolsonaro feitas pela Sociedade Secreta Silvestre mobilizaram forças federais. Integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), da Polícia Federal (PF) e da Subsecretaria de Inteligência (SI) da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP) estiveram em Brazlândia, na quinta-feira (27), para colher informações na 18ª Delegacia de Polícia, que iniciou as apurações. A segurança envolvendo a posse presidencial foi reforçada.
Ainda na quinta-feira, a PF confirmou, em nota, que abriu inquérito e frisou que acompanha o andamento da investigação da Polícia Civil do Distrito Federal sobre o artefato deixado ao lado da Igreja Santuário Menino Jesus, em Brazlândia, na madrugada de terça-feira (25).
“Hoje, a PF abriu inquérito para apurar se o caso tem relação com postagens feitas na internet por grupo que reivindica a autoria do crime”, assinalou a PF. Também procurados pela reportagem, a Abin e o GSI não quiseram se manifestar.
Preocupação com segurança A solenidade que marcará o início da gestão de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto está prevista para começar às 14h05 do dia 1º de janeiro. Um ensaio para ajustar ações de logística e do esquema de segurança foi realizado no último domingo (23). Outra simulação deve ocorrer no próximo domingo (30).
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou na manhã da última segunda-feira (24), em sua conta oficial no Twitter, que a segurança no dia da posse do seu pai será “inédita” porque a avaliação de risco é “a maior da história”.
Haverá atiradores estrategicamente posicionados no terraço do Palácio do Planalto e demais monumentos da Praça dos Três Poderes: Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF). Militares também estudaram a área onde Bolsonaro receberá a faixa presidencial e definiram pontos de observação.
Operação Antiterror nas Olimpíadas As primeiras prisões feitas pela Polícia Federal no país com base na Lei Antiterror ocorreram em 21 de julho de 2016. Na Operação Hashtag, 10 pessoas foram detidas acusadas de integrar um grupo que preparava ações terroristas para as Olimpíadas do Rio de Janeiro.
De acordo com o ministro da Justiça à época, Alexandre de Moraes, o bando utilizava aplicativos de celular, como Telegram e WhatsApp, para conversar e organizar os atentados, que não chegaram a ocorrer. Ainda segundo Moraes, contatos com o Estado Islâmico eram feitos por meio de sites da internet, mas sem interação com a base.