Fabrício Queiroz afirmou ao MPRJ que estará à disposição para depor quando tiver autorização médica
Em nota divulgada nesta quinta-feira, 27, o Ministério Público do Rio informou que o ex-policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), vai passar por "cirurgia urgente". Segundo a Promotoria, Fabrício Queiroz, investigado por movimentações atípicas em sua conta, apontadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), apresentou "atestados que comprovam grave enfermidade".
"Os advogados informaram ainda que Queiroz estará à disposição para prestar depoimento tão logo tenha autorização médica", afirmou a Promotoria.
"Outras diligências já anunciadas estão previstas para ocorrer, entre as quais a possível oitiva do deputado estadual Flávio Bolsonaro, sugerida para o dia 10 de janeiro. No mais o caso permanece sob total sigilo."
Fabrício Queiroz faltou a dois depoimentos marcados pela Promotoria. O ex-PM deixou de ir às oitivas do dia 21 de dezembro e também a do dia 19.
Nesta quarta-feira, 26, em entrevista exclusiva ao SBT, Fabrício Queiroz atribuiu o dinheiro a supostos negócios com venda de carros e disse que não é "laranja". Queiroz, contudo, não explicou os depósitos feitos em sua conta por funcionários do gabinete e familiares empregados por Flávio e o presidente eleito.
"(Eu ganhava) cerca de R$ 10 mil por mês (como assessor)", disse Queiroz. "Ainda tinha da minha ex-função, cerca de R$ 10 mil a R$ 11 mil. (Por mês), em torno de R$ 23 mil. Sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro", disse Queiroz. "Compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro, sempre fui assim. Gosto muito de comprar carro em seguradora, na minha época lá atrás, eu comprava um carrinho, mandava arrumar, vendia."
Perguntado sobre os depósitos feitos em favor da futura primeira-dama Michelle Bolsonaro, Queiroz disse que "nosso presidente já esclareceu. Tinha um empréstimo de R$ 40 mil. Foram 10 cheques de R$ 4 mil. Nunca depositei R$ 24 mil."
Ele disse que falará apenas ao Ministério Público sobre depósitos feitos em sua conta por familiares e outros funcionários dos gabinetes de Flávio e de seu pai. "Esse mérito do dinheiro, eu quero explicar ao MP. São pessoas da minha família. Eu gero o dinheiro da minha família. Minhas filhas trabalham comigo desde os 15 anos. Quando tinha vaga(nos gabinetes), eu pedia para empregá-las. Minha filha que sempre cuidou da mídia do deputado dará esclarecimento."
Queiroz disse que não é "laranja" de Flávio Bolsonaro e saiu em defesa do senador eleito, com quem diz não ter mais contato. "Não tenho falado com ele. É a coisa mais triste do mundo. Me abati muito. O que ele está passando na rua achando que eu tenho negociata, pelo amor de Deus, isso não existe. No nosso gabinete, não se falava em dinheiro. Toda hora tinha gente pedindo dez reais, mas não se dá dinheiro, não se fala em dinheiro. É covardia atribuir a Flávio o que está acontecendo. Não sou laranja, sou trabalhador."
O ex-assessor diz não estar "fugindo" e diz que chegou a achar que seria preso. "Em momento algum estou fugindo. Quero depor na frente ao promotor. Agradeço ao promotor por não me prender. Falei: 'vou ser preso'. Pedi exoneração para cuidar da minha reforma e do meu problema de saúde. Foi uma surpresa isso. Caiu como uma bomba para mim e minha família."
Entenda o caso Coaf
Queiroz passou a ser o pivô do principal problema político do presidente eleito Jair Bolsonaro quando o Estado revelou, no dia 6 de dezembro, que um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontou movimentações atípicas em suas contas.
Segundo o documento, o ex-assessor do senador eleito, Flávio Bolsonaro, movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Uma das movimentações foi o depósito de um cheque de R$ 24 mil na conta da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro - no início de dezembro, Bolsonaro disse que o cheque era o pagamento de um empréstimo. O Estado revelou ainda que funcionários do gabinete de Flávio chegaram a depositar 99% do que receberam no período na conta de Queiroz, e que a maioria das transferências foram feitas no dia ou em datas próximas ao pagamento na Alerj.
Esta é a primeira vez que o ex-assessor fala publicamente sobre o assunto. Por duas vezes, Queiroz alegou problema de saúde para não comparecer ao depoimento que seria prestado ao Ministério Público nos dias 19 e 21 deste mês. No dia 7 de dezembro, Flávio Bolsonaro disse ter conversado com Queiroz, e afirmou que ele teria lhe dado "explicações convincentes" para o episódio, mas não disse quais seriam elas. O MPRJ informou que também pedirá para que Flávio Bolsonaro preste esclarecimentos sobre o caso, no dia 10 de janeiro.
De acordo com Queiroz, ele precisará fazer uma cirurgia por conta de um tumor maligno no intestino. "Tenho uma cirurgia pra fazer no ombro (esquerdo). estava com problema na urina, tosse. E foi constatado um câncer. É um câncer maligno, indicado sem nem pegar a biopsia. Vou ser submetido a outros exames e (o médico) me disse que temos que operar o mais rápido possível. É um tumor grande no intestino. As fezes passam fininho. Não estou fugindo do MP. Quero prestar esclarecimento."