Taxa de desocupação em 2018 até outubro é de 12,4%; perspectiva para 2019 é de leve oscilação negativa, mas aumento de empregos precários
Brasil fechará o terceiro ano seguido com a taxa de desemprego acima da casa dos dez pontos percentuais. Entre 2012 e 2015, a quantidade de pessoas desocupadas no País ficou abaixo deste teto, variando entre 6,8% e 8,5%. Agora, o cenário é outro. Em 2016 e 2017, a taxa foi de 11,5% e 12,7%, respectivamente. E em 2018, a média anual até outubro é de 12,4% - o número oficial do ano será divulgado no dia 31 de janeiro de 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão responsável pelas estatísticas oficiais do País.
A perspectiva para 2019 também não é animadora. “Provavelmente, vamos fechar mais um ano acima dos 10%”, diz a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. Porém, ela avalia que há uma tendência de queda nos últimos meses que pode se confirmar ao fim do ano que vem, com a taxa chegando de fato mais próximo dos dez pontos. Do 1º trimestre até os últimos três meses com dados (agosto, setembro e outubro), o desemprego caiu de 13,1% para 11,7%.
Apesar de no ano passado ter ocorrido o mesmo movimento - a taxa caiu de 13,7% para 11,8% do 1º para o 4º trimestre -, Kawati acredita que para 2019 a previsibilidade da economia brasileira é maior do que foi para 2018, um ano com eleições definidas na reta final e muito conturbado na cena política. Para a economista, a confiança da classe empresarial é fator decisivo para retomada do emprego. “O empresário vai tateando. Quando o crescimento vai se provando sólido, ele começa a contratar mais”.
O gráfico abaixo mostra a taxa de desocupação no Brasil desde 2012, quando o IBGE alterou a metodologia utilizada na pesquisa. O levantamento é feito por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) e abrange todo o território nacional.
O professor de economia do Insper, Fernando Ribeiro, também acredita que o desemprego irá se manter em um patamar elevado, mesmo que haja uma leve variação negativa. “O mercado de trabalho tem um comportamento bem assimétrico de penalização para os trabalhadores”. Ele explica que, quando a economia vai mal, o desemprego sobe rapidamente, mas o contrário não acontece. “Quando cai, o processo é lento, e a taxa se estabiliza em um nível acima do anterior”.
Ribeiro não olha com otimismo para o futuro da economia brasileira. Apesar de o País ter um novo governo com uma equipe econômica já definida, o professor do Insper acredita que o ambiente político continuará conturbado em 2019. Para ele, o futuro ministro da Economia Paulo Guedes, escolhido pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, poderá ter dificuldades em alinhar pautas com o Congresso.
“Vai ser um ano tumultuado, complicado, o que vai ‘esfumaçar’ de novo as expectativas. A retomada da atividade econômica deve acontecer, mas de forma moderada e bem aquém do que era necessário para a taxa de desemprego cair fortemente”, prevê.
Este gráfico mostra a taxa de desocupação mensal no Brasil ao longo dos últimos três anos. O cálculo do IBGE é feito através de uma média móvel com os últimos três meses (Exemplo: o desemprego de dezembro considera a média de outubro a dezembro). Com isso, o instituto minimiza o efeito da sazonalidade.
Outro ponto negativo para o trabalhador, segundo Ribeiro, será a qualidade do emprego e dos salários. “Serão precários, com baixas remunerações, ainda que formais, mas precários”, avalia.
A economista-chefe do SPC Brasil concorda. Marcela Kawauti lembra que a redução da taxa ao longo de 2018 já tem forte relação com o aumento da informalidade. “O ideal seria que já tivéssemos o trabalhador no mercado formal, com acesso ao crédito e a uma rede de benefícios. Mas é típico das recuperações a informalidade subir primeiro, pois o empresário precisa ter confiança na economia para voltar a investir em contratações”, diz a economista.
Subutilização e desalentados
Além da taxa de desemprego, outras variáveis do mercado de trabalho também devem ser levadas em conta. A quantidade de “desalentados” - ou seja, aqueles que desistiram de procurar emprego - mais que triplicou nos últimos quatro anos. Do 3º trimestre de 2014 ao mesmo período deste ano, a quantidade saltou de 1,5 milhão para 4,8 milhões de pessoas. Em percentual, calculado em cima da força de trabalho naquele recorte, a taxa passou de 1,2% para 4,2%.
Mas o cálculo do IBGE que melhor ilustra a falta de emprego é o da taxa composta da subutilização da força de trabalho. Esta variável abrange o desempregado (classificado como “desocupado” pelo instituto), o subocupado (aquele que trabalha menos do que gostaria) e a parte da força de trabalho que desistiu de procurar emprego (desalentados) ou que está impossibilitada por algum motivo. Esse número pulou de 15,1%, em 2014, para 24,5%, na média de 2018 até o 3º trimestre. Confira no gráfico abaixo a variação da taxa composta da subutilização da força de trabalho:
Por que o desemprego elevado persiste?
Para Kawauti, as taxas de desemprego se mantêm altas devido ao baixo crescimento econômico, que não estimula os empresários a contratar. “O empresário espera o crescimento econômico ser sólido para ter a confiança e voltar a contratar”, afirma.
A economista diz que o desemprego é a última variável a melhorar. Segundo Kawauti, as leis trabalhistas vigentes são importantes para dar suporte ao trabalhador que perde o emprego, mas, em contrapartida, fazem o empresário ter mais cautela antes de contratar. “O mercado de trabalho demora a reagir a medidas econômicas. Por isso temos uma queda do desemprego de uma maneira muito lenta”.
Segundo o professor Fernando Ribeiro, a crise do sistema político brasileiro nos últimos anos impactou profundamente a economia no País. Ele explica que a incerteza no futuro fez os empresários aguardarem uma definição de rumos antes de voltar a investir em novas contratações. “Tudo se resume na expectativa do empresário no médio prazo. O impeachment da Dilma, com a crise política, gerou uma incerteza maior. Então, ele foi engavetando os planos de investimento”.
Ele lembra que, ao mesmo tempo, houve a redução do crédito para as famílias de 2015 para cá. “O baixo crédito retraiu a demanda, e as famílias endividadas começaram a quitar suas dívidas, reduzindo o consumo”, acrescentou.