Com seus principais homens de confiança na cadeia, o ex-prefeito de Ji-paraná, Jesualdo Pires (PSB), está na mira da Polícia Federal por suspeita de envolvimento na Organização Criminosa que roubou milhões de reais, ao longo de vários anos, dos cofres municipais. A ORCRIM que operava na Prefeitura de Ji-paraná caiu no dia 20 deste mês, quando foi deflagrada a Operação Pedágio, batizada assim porque empresários, para ganhar contratos ou receber pagamentos, tinham de pagar propina à gangue.
Representação por Medidas Cautelares assinada pelo delegado federal Peterson Manyz, no dia 10 de outubro deste ano, encaminhada à justiça, deixa claro que Jesualdo Pires é um dos suspeitos e que será investigado.
No curso das investigações, gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal com autorização judicial citam, diversas vezes, o nome de Jesualdo, inclusive relacionando-o a recebimento de propina.
Por ser um alvo importante, Jesualdo será investigado num inquérito à parte, podendo ter sua situação ainda mais complicada por possíveis delações premiadas que devem ser negociadas por integrantes de seu próprio núcleo.
Um dos que podem fazer delação é Jair Eugênio Marinho, que o acompanha há décadas, inclusive com passagem pela Assembleia Legislativa quando o ex-prefeito foi deputado estadual.
Jair Marinho ocupou os cargos de secretário municipal de Administração, secretário municipal de Governo e, por último, o cargo de supervisor de assuntos legislativos do gabinete do prefeito.
Sua proximidade com Jesualdo é tão grande que concorreu à suplência do ex-prefeito quando este disputou o Senado Federal neste ano, numa candidatura derrotada.
Jair Marinho é apontado pela Polícia Federal como o líder da organização criminosa formada por funcionários públicos e empresários, que, por meio de fraudes e direcionamento de licitações ,teria roubado recursos públicos federais,estaduais e municipais destinados ao município.
Ele figura entre os principais investigados da Operação Pedágio, deflagrada pela Polícia Federal no dia 20 deste mês. Na lista constam, ainda, Adão Dutra de Carvalho, Aníbal Severino da Silva, Antônio José Fuhrmann, Jackson Junior de Souza, Nilton Cezar Rios, Valmir Xavier, Nilton Mota, Valentin Camilo e Renato Camilo.
No período de 2012 a 2017, segundo a Polícia Federal, grande parte do patrimônio adquirido por Jair Marinho tem origem ilícita, pois é flagrantemente incompatível com seus rendimentos.
Jesualdo Pires era deputado estadual em 2012, exercendo o segundo mandato. Jair Marinho estava lá com ele na Assembleia Legislativa de Rondônia na condição de braço direito. Em janeiro de 2013, Jesualdo assumiu a Prefeitura de Ji-paraná, ficando no comando do município até abril de 2018, quando se desincompatibilizou para disputar o Senado, mas nem assim separou-se de Jair, que foi suplente na sua chapa derrotada.
À frente da Prefeitura de Ji-paraná, Jesualto Pires investiu seu fiel escudeiro de poderes extraordinários. Enquanto secretário, Jair possuía amplos poderes para assinar contratos, ordenar despesas, ordens bancárias, cheques (conforme Decreto nº 0003/GAB/PM/JP/2013).
A Polícia Federal diz que ele é quem provavelmente centralizou o recebimento do dinheiro desviado e decidiu quem seriam os empresários que deveriam colaborar com a Organização Criminosa.
Também decidia quais processos seriam deixados de pagar para pressionar empresários não “colaborativos”. Travava pagamentos quando empresário não colaboravam.
Não é sem motivo que, em uma gravação telefônica interceptada pela Polícia Federal, um dos interlocutores se refere a Jair Marinho como o “Super Homem” da Prefeitura de Ji-paraná.
Em conversa ( abaixo transcrita) entre um indivíduo não identificado e o presidente da CPL (Comissão de Licitação) de Ji-Paraná, Jackson Junior de Souza, o servidor público se refere a ele como “Super-Homem” e, profeticamente, afirma: Jair Marinho será descoberto por suas ilegalidades.
Na gravação, o chefe da CPL demonstra saber que Jair participava de fraudes na Prefeitura e que, por isso, o então prefeito pretendia tirar o foco sobre ele, mudando-o de cargo. Diz que Jair “dá um terror” nos funcionários da Prefeitura e nos empresários (possivelmente empreiteiros contratados para realização de obras na cidade”.
Ele caiu, mas caiu pra cima, como destaca o relatório da PF: em 2017, Jair deixa de ser secretário municipal de Administração e passa a ser secretário municipal de Governo, uma espécie de Casa Civil da corrupção.