Dormir menos de seis horas por dia ou ter uma noite de sono fragmentada pode aumentar o risco de aterosclerose. O problema é caracterizado pela aglomeração de placas de gorduras nas paredes de artérias do corpo. Como o processo de acúmulo não apresenta sintomas, as noites mal dormidas podem ser o primeiro sinal da doença. A conclusão é de pesquisadores do Hospital Universitario Puerta de Hierro Majadahonda e do Centro Nacional de Pesquisa Cardiovascular (CNIC), ambos de Madri, Espanha.
— O estudo é uma boa mensagem para você se perguntar o porquê de estar tendo noites ruins de sono. É um alerta — afirma Sérgio Meirelles, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro (SBACV-RJ).
O trabalho envolveu 3.974 adultos de meia-idade (63% homens) que foram submetidos a um monitor na cintura por sete dias para registrar a qualidade e a quantidade do sono. Os participantes foram divididos em grupos, considerando menos de seis horas um tempo muito curto de sono; seis a sete, curto; sete a oito, o tempo de referência; e mais de oito horas, longo.
Após ajuste para fatores de riscos cardiovasculares e outros problemas de saúde, os pesquisadores atestaram que os pacientes com menor tempo de sono e mais interrupções apresentaram propensão à aterosclerose e ao aumento da probabilidade de desenvolver síndrome metabólica (conjunto de condições que aumentam risco de doença cardíaca, acidente vascular cerebral e diabetes).
— A aterosclerose é uma doença ligada ao envelhecimento. Mas alguns fatores podem precipitar o aparecimento em um momento mais inicial da vida — explica Sérgio.
Sinais aparecem quando já há complicação
Os sinais da doença só aparecem quando uma artéria fica obstruída e o sangue não consegue chegar até ao órgão que deveria ser irrigado.
— Quando uma artéria femural (que fica na coxa) tem um entupimento, o paciente pode ter dificuldade para caminhar e futuramente feridas no pé por falta de circulação. Uma aterosclerose na artéria carótida muitas vezes o sintoma é um AVC. Então, ela é normalmente silenciosa e quando se manifesta tem uma complicação maior — alerta Julio Peclat, diretor de publicações da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV).
O diagnóstico pode ser feito por meio de um exame de ecodoppler arterial, um tipo de ultrassonografia vascular, que gera imagens com as quais o médico consegue avaliar o fluxo sanguíneo — que quanto há a doença, está modificado por causa da presença da placa na artéria.