Vice-primeiro-ministro da Itália parabeniza Bolsonaro e diz que voltará a pedir extradição de Battisti
O presidente francês, Emmanuel Macron, felicitou Jair Bolsonaro (PSL) nesta segunda-feira (29) pela vitória na eleição do Brasil, mas, num aceno ao discurso autoritário do capitão reformado e a declarações sobre a possível saída do país do acordo climático, mencionou “princípios democráticos” e disse esperar manter a cooperação bilateral no âmbito da “diplomacia ambiental”.
“A França e o Brasil mantêm uma parceria estratégica em torno de valores comuns de respeito e de promoção dos princípios democráticos”, diz o comunicado divulgado pelo Palácio do Eliseu –Macron foi um dos primeiros chefes de Estado ou de governo europeus a se pronunciar sobre o resultado da corrida presidencial brasileira.
“É no respeito a esses valores que a França deseja levar adiante sua cooperação com o Brasil, para enfrentar os grandes desafios contemporâneos do nosso planeta, tanto no campo da paz e da segurança internacionais quanto no da diplomacia ambiental e dos compromissos com o Acordo de Paris sobre o clima”, prossegue a nota.
Em setembro, Bolsonaro havia aventado a hipótese de retirar o Brasil do tratado que busca reduzir as emissões de dióxido de carbono em escala global. Na reta final da campanha, recuou.
Na internet, líderes da direita nacionalista da Europa desejaram boa sorte ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
O ministro do Interior da Itália e vice-premiê, Matteo Salvini (Liga), escreveu: “Também no Brasil, os cidadãos mandaram para casa a esquerda. Bom trabalho ao presidente #Bolsonaro, a amizade entre nossos povos e nossos governos será ainda mais forte”. Ele encerrou essa postagem com a hashtag #OBrasilVota17.
Salvini disse ainda que “depois de anos de conversas improdutivas [entre Roma e Brasília], pedirei que seja extraditado à Itália o terrorista vermelho #Battisti”.
Ele se refere ao ex-ativista Cesare Battisti, condenado na Itália por quatro assassinatos cometidos nos anos 1970, quando era membro do grupo Proletários Armados pelo Comunismo. Preso em 2007 no Brasil, teve sua extradição autorizada pelo STF, mas barrada pelo ex-presidente Lula.
A aplicação da medida ainda espera apreciação da 1ª Turma do Supremo. De seu lado, em publicação na internet no último dia 16, Bolsonaro prometera “extraditar o terrorista Cesare Battisti, amado pela esquerda brasileira, imediatamente, em caso de vitória nas eleições” –o que afrontaria o STF.
De volta à França, a líder da ultradireita Marine Le Pen escreveu que “os brasileiros acabaram de punir a corrupção generalizada e a criminalidade aterrorizante que prosperaram sob os governos de extrema esquerda”.
Ela disse ainda que o presidente eleito “deverá recuperar a economia, a segurança e a democracia, muito comprometidas no Brasil”.
Antes de Macron se pronunciar, a conta oficial de seu partido (A República em Marcha) em uma rede social amanhecera com a seguinte mensagem:
“O Brasil terá agora em seu comando um presidente orgulhosamente homofóbico, cético em relação ao aquecimento global, sexista e racista. Essa tragédia eleitoral nos força a agir. Não temos escolha, não podemos errar. Senão podemos ver o que nos espera. Progressistas de todos os países, uni-vos!”.
O presidente interino da mesma legenda, Philippe Grangeon, adotou tom semelhante, dizendo que “o nacionalismo prospera onde nós falhamos. Denunciá-lo não é o suficiente. É urgente trazer respostas novas e combate-lo no campo das ideias”.
Já para o chefe do Partido Socialista francês (do ex-presidente François Hollande), “os brasileiros veem a eleição de um xenófobo, homofóbico, misógino, admirador da ditadura, inimigo da mídia e entusiasta de ‘fake news’”.
Segundo Olivier Faure, “de um continente a outro, de [Viktor] Orbán [premiê da Hungria] a Trump, de Salvini a Bolsonaro, a democracia vacila. Os nacionalistas captam e deturpam a raiva dos povos. É urgente sairmos dos caminhos conhecidos e despertar uma esperança humanista”.
Um deputado da França Insubmissa, um dos partidos mais à esquerda na cena nacional, foi além. “Depois de eliminar Lula se valendo de uma pseudo-Justiça, o neoliberalismo preferiu Hitler à Frente Popular [nome dado a coligações, geralmente de esquerda, que se opuseram à ascensão do fascismo e do nazismo na Europa nos anos 1930]”, escreveu Eric Coquerel.