"Ela cria uma relação pervertida entre cidadania e o Estado", disse ministro em evento comemorativo dos 30 anos da Constituição Brasileira
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, disse hoje (5) no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), que a corrupção não é uma nota de pé de página da história. Barroso participou de um encontro para comemorar os 30 anos da Constituição Brasileira, organizado pela Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj).
“Ela [a corrupção] desvia recursos que não vão para serviços públicos, que não vão para serem redistribuídos. Ela cria uma relação pervertida entre cidadania e o Estado. Cria um ambiente generalizado de desconfiança em que todo mundo pensa que pode passar o outro para trás. Estão errados os progressistas que pensam assim”, disse à Agência Brasil após o encontro.
Segundo Barroso há dois tipos de corruptos: os que não querem ser punidos e os que são os que não querem ficar honestos, apesar dos escândalos já divulgados no país. Este segundo tipo, na opinião do ministro, são os piores. “Acaba sendo uma batalha muito difícil, quando não muito solitária, quando se precisa enfrentar os progressistas, a elite e os corruptos. Mesmo assim, acho que esse trem já saiu da estação e doravante, cada vez menos, a sociedade vai aceitar este modo desonesto com que se faz política e negócios no Brasil”, disse.
Violência
O ministro também destacou os altos índices de violência no Brasil. “Nos tornamos o país mais violento do mundo, com 63 mil homicídios por ano. É mais do que morre na guerra da Síria. É um número quase invisível, porque são pessoas pobres, de baixa escolaridade, negras. O país não pode conviver com estes índices de violência, portanto, precisamos ter isso na agenda brasileira e diagnosticar a causa dessas mortes e o que precisamos fazer para superar estes números que nos envergonham tanto quanto a corrupção”.
Para o ministro, uma das causas da violência pode ser a falta de investimentos efetivos na educação básica, que, apesar de ter registrado avanços, não foram suficientes para as necessidades da população.
“A educação é tratada com descuido no Brasil. Na economia todo mundo quer saber quais são os nomes e quais são os projetos pelo mundo para sair da recessão. Na educação ninguém debateu, ninguém pensou quais são os melhores nomes”, disse. “Acho que em um país polarizado nós devemos buscar denominadores comuns e acho que um projeto suprapartidário patriótico de curto, médio e longo prazo para a educação básica é capaz de unificar o país”.
De acordo com Barroso, um projeto como esse seria capaz de unir setores da esquerda à direita com o objetivo de elevar o nível educacional brasileiro e preparar a nova geração para um país melhor.