Seis suspeitos de corrupção lideram em seus estados; outros três estão em situação difícil, mas com chances
Pelo menos seis senadores suspeitos de corrupção em investigações da Operação Lava-Jato têm boas chances de serem reeleitos. Investigados com autorização do Supremo Tribunal Federal por recebimento de propina ou caixa 2, Ciro Nogueira (PP-PI), Edison Lobão (MDB-MA), Eunício Oliveira (MDB-CE), Garibaldi Alves Filho (MDB-RN), Renan Calheiros (MDB-AL) e Jader Barbalho (MDB-PA) lideram ou estão em segundo lugar, de acordo com as últimas pesquisas de intenção de voto do Ibope, feitas em agosto.
Os senadores fazem parte de um grupo maior, de mais de 30 alvos da Lava-Jato, que disputam a eleição deste ano. A operação listou 23 senadores em irregularidades, mas alguns estão livres porque os inquéritos em que eram citados foram arquivados. Há ainda casos de senadores que, por causa do desgaste, optaram por disputar outro cargo, como o tucano Aécio Neves, que se lançou a a deputado federal.
Líder em Alagoas, com 33% dos votos, Renan Calheiros (MDB) é alvo de oito inquéritos no Supremo. As acusações vão desde a suspeita de cobrar propina das empreiteiras do cartel da Petrobras até receber valores da Odebrecht e do grupo J&F em troca de aprovação de projetos de lei e Medidas Provisórias.
No Piauí, Ciro Nogueira, presidente do PP, envolvido em seis investigações, tem 26% e está atrás de Wilson Martins (PSB), com 31%. Na quinta-feira passada, o ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo, autorizou abertura de inquérito para investigar Nogueira, suspeito de receber propina da J&F, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Na Paraíba, a pesquisa de intenção de voto do Ibope mostra o senador Cássio Cunha Lima (PSDB) na liderança pela reeleição. O tucano apareceu na delação premiada da Odebrecht como destinatário de R$ 800 mil de caixa 2 em 2014.
São inquéritos abertos há quase quatro anos e que seguem parados, sem novidade. Os delatores não trazem nada que justifique a investigação — diz o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que representa os senadores Valdir Raupp (MDB-RO), Edison Lobão, Romero Jucá (MDB-RR) e Ciro Nogueira.
Os senadores envolvidos na Lava-Jato que enfrentam mais dificuldade são Humberto Costa (PT-PE), Romero Jucá e Valdir Raupp. Costa e Jucá disputam o segundo lugar em Pernambuco e Roraima, respectivamente. Raupp está em terceiro lugar em Rondônia.
O professor de ciência política Oswaldo Martins Estanislau do Amaral, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, afirma que as reformas na legislação eleitoral, com redução do tempo de campanha, e o financiamento público dificultaram a vida dos desafiantes ao cargo:
— Com menos tempo de campanha, a exposição dos desafiantes, que o eleitor conhece menos, diminui. E o financiamento eleitoral favoreceu as cúpulas partidárias.
Todos os candidatos negam as irregularidades e desqualificam as acusações. O senador Renan Calheiros afirma que apoia a Lava-Jato e que muitas denúncias contra ele são “repetições de acusações” infundadas.
A assessoria de Eunício Oliveira informou que ele não comenta inquéritos em andamento. Responsável pela defesa de Lobão e Ciro Nogueira, Antonio Carlos de Almeida Castro atribui as investigações a acusações sem prova.
O senador Garibaldi Alves Filho disse que a denúncia de que é alvo reconhece que a doação foi feita de forma oficial. Humberto Costa afirmou que aguarda o encerramento das investigações. Cássio Cunha Lima disse que o inquérito não aponta nada que o incrimine: “O próprio delator diz que não recebi dinheiro de caixa 2”.