Ao todo, foram registrados, em 2016, 11,4 mil casos de pessoas que tiraram a própria vida no país. Isso equivale a 31 óbitos por dia
O Brasil registrou um aumento de 16,8% na taxa de mortalidade por suicídio entre 2007 e 2016. Dados divulgados nesta quinta-feira (20/9) pelo Ministério da Saúde mostram que, no ano mais recente da série, ocorreram 5,8 óbitos a cada 100 mil habitantes. Em 2007, a proporção era de 4,9. O crescimento está relacionado sobretudo ao aumento de casos entre homens. No período analisado, foi de 28%.
Ao todo, foram registrados, em 2016, 11,4 mil casos de pessoas que tiraram a própria vida no país. Isso equivale a 31 óbitos por dia. A estimativa, no entanto, é de que os números sejam ainda maiores. “Consideramos que cerca de 20% das mortes não têm a causa registrada”, afirma a diretora de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Fátima Marinho.
O trabalho conduzido por Fátima mostra que a taxa de mortalidade é expressivamente maior entre homens: 9,2 casos por mil habitantes. No grupo feminino, o índice é de 2,4. Embora as taxas de morte sejam superiores entre homens, indicadores de tentativa de suicídio são maiores entre as mulheres.
Para Fátima, a diferença pode ser um indicativo de que as mulheres muitas vezes buscam com o ato chamar a atenção para o sofrimento, não necessariamente morrer. “E isso geralmente por questões familiares. Muitas são chefes de família e sabem o impacto que a morte poderia provocar para filhos”, avalia.
Estudos serão aprofundados Segundo Fátima, a meta agora é aprofundar os estudos sobre os fatores de risco para o suicídio. Avaliações preliminares já dão pistas importantes. Um deles é o desemprego. Na análise dos casos de tentativas, cerca de 40% dos casos não trazem a informação sobre a situação profissional da vítima. Mas nos casos nos quais o registro é feito, 52% indicavam que a pessoa estava desempregada.
“Ele desponta como fator associado. Também vemos que as mulheres vítimas de violência têm risco muito maior”, completa. Para a diretora, isso explicaria, por exemplo, o fato de um grande número de meninas tentarem suicídio. “Temos casos de tentativas em faixas muito novas, de meninas com 12 anos”, completa.
A especialista afirma que o suicídio é um problema de saúde pública, não apenas no Brasil como no mundo. “Isso traz a necessidade de discutirmos o tema, os vários determinantes que levam ao sofrimento na população.” Ela observa ainda que os dados devem ser analisados de forma a traçar estratégias de prevenção. “Precisamos ver as ações que podem ser adotadas para prevenir novos casos”, diz.
Prevenção Estudos mostram, por exemplo, que a existência de Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são considerados como fator de proteção. Em locais onde o centro está em funcionamento, o risco de suicídio é 14% menor. A constatação é relevante, sobretudo quando se analisam também os gastos do Sistema Único de Saúde (SUS) com internação de pessoas que atentaram contra a própria vida por meio da ingestão de medicamentos, venenos ou pesticidas.
O SUS gasta em média R$ 3 milhões anuais para essa assistência. O valor é equivalente ao custo de implantação de custeio de 8 Caps anuais. “Seria uma forma de prevenção muito efetiva”, observa Fátima.
Apesar de já haver tal constatação, a análise dos dados mostra que não houve um aumento da implantação de Caps em áreas onde as taxas de suicídio aumentaram. No Piauí, por exemplo, um Estado que chama a atenção pelo avanço do problema não teve nenhum novo Caps implantado dentro da política de expansão. Questionado, o coordenador do programa de Saúde Mental, Quirino Cordeiro, afirmou que a instalação depende de solicitação dos estados.
Mais leitos O coordenador deixou claro ainda que deverá haver um aumento de vagas para leitos psiquiátricos em hospitais gerais. A medida, de acordo com ele, seria importante para atender pacientes em situação de risco. Conforme afirmou, o país é o que apresenta uma das menores taxas de leitos para urgências psiquiátricas: 0,3 para cada mil habitantes. “Isso sabidamente aumenta os riscos”, disse. Contudo, Cordeiro reconheceu não haver ainda uma meta específica sobre o aumento de leitos.
Fátima, contudo, tem avaliação distinta. Ela afirmou que a maior parte dos pacientes que tentaram suicídio precisam de tratamento médico, não necessariamente uma internação em leitos psiquiátrico, e que doenças psiquiátricas anteriores têm pouca relevância sobre os fatores de risco para o suicídio.