Boa parte delas se inspirou na vereadora executada Marielle Franco e se candidata pela primeira vez no pleito deste ano
Mais de 9 mil rostos de mulheres aparecerão nas urnas em 2018. Em busca de protagonismo na política, muitas vão se candidatar pela primeira vez. Nesse universo, cresceu a participação de mulheres pretas. Em 2014, mulheres com esse tom de pele eram 10,27% das candidatas (8.124). No próximo pleito representam 13,47% do total de opções femininas. As pardas somam 35% das concorrentes e essa porcentagem se manteve em relação à última eleição nacional. Os números são registrados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Durante muito tempo, a palavra “preto” foi usada como xingamento no Brasil, por conta do racismo. A expressão, no entanto, é um critério formal para definir a cor de pele, reconhecido pelo IBGE. O negro é caracterizado em várias definições. Pretos e pardos são duas delas. Foram as próprias mulheres que, ao se candidatarem, se autodeclararam “pretas”.
Uma das inspirações citadas frequentemente é Marielle Franco, a vereadora carioca negra assassinada a tiros, junto do motorista Anderson Pedro Gomes, seis meses atrás, sem nenhuma solução do crime até o momento. Após a execução, restaram somente 5 vereadoras pretas eleitas em todo o país.
“A política institucional é um lugar onde o machismo se revela no cotidiano de projetos legislativos que retiram nossos direitos e até decidem sobre nossos corpos, nossos desejos. Não é à toa nossa decisão (de participar da política). Temos uma responsabilidade coletiva com as mulheres,e a luta só fará sentido se estivermos juntas”, escreveu Marielle em uma rede social, em 13 de setembro de 2016.
O perfil predominante dos candidatos em 2018 é de homens (68,6%), brancos (52,46%) e casados (54,5%). Somente 10% do total de concorrentes homens e mulheres é preta. Trata-se de um retrato da política tradicional e com lacunas de diversidade.
Do ativismo para política No que depender de mulheres como Ilka Teodoro (PSol), Rebeca Gomes (PT), Hellen Frida (PT), Keka Bagno (PSol) e Talita Victor (PSol) esse cenário vai mudar. Elas são candidatas pela primeira vez, em Brasília. A influência de Marielle Franco está presente.
Ilka Teodoro é advogada e presidiu a comissão de direitos das mulheres da Ordem dos Advogados do Brasil. Também está à frente de uma ONG que combate violência obstétrica. “Sempre batalhei para que tivéssemos mais mulheres na política, até que começaram a me questionar por que não colocar o meu nome à disposição”, relata.
A intenção, a princípio, era concorrer em 2022, mas a morte de Marielle Franco deixou latente a urgência de participar do processo político mais de perto. “Quando menos mulheres nos espaços de decisão, mais vulneráveis nós estamos. Me filiei no último dia da janela partidária”, diz Ilka, que concorre a uma vaga como deputada distrital.
Ela tem três principais propostas.A primeira é a fiscalização efetiva de gastos públicos para direcionar recursos para as prioridades da população. Ilka também deseja humanizar o atendimento às gestantes, por meio da capacitação dos servidores da saúde e ampliar casas de parto. A advogada faz parte de um grupo de 12 mulheres espalhadas pelo Brasil que se autodenominou “bancada das mães ativistas”.
A terceira linha de trabalho seria identificar boas práticas na educação (como bons modelos de creches) e saúde e replicá-las. A candidata sugere que toda região tenha algum posto de segurança comandado por mulheres.
Rebeca Gomes é a candidata mais jovem do DF, com 21 anos. É estudante de história na Universidade de Brasília (UnB). Acompanhou no cotidiano as consequências dos cortes de verba que a educação sofreu recentemente.
“Minha candidatura surge para ocupar espaço como jovem, mulher negra, que chegou até aqui por conta de políticas do governo Lula de incentivo à educação”, defende.
O assassinato da Marielle Franco foi chocante e motivador. É preciso continuar a luta"
Rebeca Gomes, 21 anos
As três principais bandeiras de Rebeca são: juventude, educação e direito das mulheres com recorte de raça. “Estão destruindo o nosso futuro. Por meio da educação pública de qualidade e gratuita conseguiremos abarcar toda a sociedade para uma mudança estrutural”, diz.
Conheça outras candidatas pretas ou pardas que levantam a bandeira da defesa aos direitos da mulher, no Brasil a fora:
Neste link você encontra perfis de outras candidatas negras (e brancas também) em vários estados brasileiros.