Dados do IBGE mostram que hoje há 1,4 milhão de ambulantes trabalhando no país, a maioria deles no setor de comércio e alimentação
Trabalhadores que atuam por conta própria ganham 24,4% a menos que a média do país, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Profissionais autônomos receberam, em média, 1.610 reais no segundo trimestre deste ano, enquanto a média salarial no Brasil foi de 2.128 reais no mesmo período.
Além do achatamento salarial, o número de brasileiros sem carteira assinada no segundo trimestre também tem aumentado de forma contínua nos últimos seis anos — a alta foi de 13,4% do segundo trimestre de 2012 na comparação com o mesmo período de 2018.
Coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, explica que, em quatro anos, 4 milhões de postos com carteira assinada foram perdidos no Brasil, o que justifica o aumento linear de trabalho por conta própria. “A informalidade é retrato de um reajuste da economia do país”, diz.
Neste cenário de desarranjo, há profissionais autônomos prestadores de serviços e também os informais que não têm empresa aberta, mas fazem “bicos” para gerar renda.
Dados exclusivos divulgados a VEJA apontam que há hoje 1,4 milhão de ambulantes trabalhando no país, a maioria deles no setor de comércio e alimentação.
Segundo o IBGE, 80% desses profissionais por conta própria — que incluem os ambulantes — não têm CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas) e a maioria sequer contribui com a Previdência.
“A informalidade é ruim pela falta de proteção social e financeira. O profissional tem de quebrar pedras a cada dia, e se fica sem trabalho, não gera renda e não pode investir. Freia a economia e desestabiliza ainda mais o país”, afirma Azeredo.
Para se ter uma ideia, a quantidade de brasileiros que atuam na informalidade representa quase um quarto de todos os trabalhadores do país, segundo o IBGE. No segundo trimestre de 2018, 23 milhões profissionais atuavam nessas condições, de um total de 91 milhões trabalhadores.
Os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, principais centros econômicos do país, por sua vez, registraram o menor nível de carteira assinada do país, com 9,9 milhões e 2,8 milhões de trabalhadores por conta própria, respectivamente.
André Roncaglia, economista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), reforça que a quantidade de profissionais informais no país não demonstra o potencial de empreendedorismo da economia. Pelo contrário, destaca o quanto o país tem dificuldade para absorver sua mão de obra.
“Com um volume tão grande de informais no mercado, a desigualdade social e o desequilíbrio de renda tendem a aumentar, reduzindo a produtividade do país. Em um cenário de vacas magras, as empresas cortam custos, e a folha de pagamento é sempre uma das mais afetadas”, analisa Roncaglia, sócio-fundador da consultoria Stokos Economic Research.