Líderes das pesquisas sem Lula têm o primeiro enfrentamento da campanha
Num debate em que candidatos evitavam fazer acusações pessoais e no qual o emprego predominou como tema, um enfrentamento entre Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) foi o principal momento no encontro de presidenciáveis, ontem à noite, na RedeTV!. Foi a primeira vez na campanha que os dois, líderes nas pesquisas de intenção de votos nos cenários sem Lula (PT), tiveram um embate direto.
No final do quarto bloco, Bolsonaro escolheu Marina para perguntar se ela concordava com a ideia, defendida por ele, de liberar o armamento para a população. Marina respondeu que não, mas voltou ao tema da equiparação salarial entre homem e mulher. Pouco antes, Bolsonaro havia dito que o governo não tem como interferir no tema se a diferença ocorre no setor privado, e que não há muito a fazer pois a legislação já prevê equiparação.
Marina afirmou que o adversário não sabe “o que significa uma mulher ganhar um salário menor, ter a mesma competência e ser a primeira a ser demitida”, acusando o candidato do PSL de “não se preocupar” com a questão. — Quando se é presidente, tem que fazer cumprir o artigo 5º da Constituição, que diz que nenhuma mulher deve ser discriminada, e não fazer vista grossa.
Bolsonaro contra-atacou chamando a candidata da Rede de “uma evangélica que defende aborto e maconha”. — Você não sabe o que é uma mulher ter um filho jogado no mundo das drogas. Eu defendo a mulher, inclusive a castração química para estupradores. Você não pode me interromper.
Em seguida, Marina encerrou com a declaração mais incisiva: — Você acha que pode resolver tudo no grito, na violência. Nós somos mães, educamos nosso filhos. Você fica ensinando para os jovens que têm de resolver as coisas na base do grito, Bolsonaro. Outro dia, você pegou a mãozinha de uma criança e ensinou a atirar. Você sabe o que a Bíblia diz sobre ensinar uma criança? A Bíblia diz que se deve ensinar à criança o caminho que deve andar. É esse ensinamento que você quer dar ao povo brasileiro? — questionou Marina, que ouviu aplausos da plateia e foi cumprimentada por Guilherme Boulos, candidato do PSOL. — Obrigado, Marina, por botar o Bolsonaro em seu devido lugar.
CIRO E ALCKMIN
Na maior parte do tempo, o emprego foi o principal ponto de discussão entre os presidenciáveis. O incremento da construção civil foi citada como um ponto de partida para a criação de novos postos de trabalho.
Em um embate entre Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), o pedetista citou a proposta de renegociar a dívida das 63 milhões de pessoas inscritas no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) como um dos “motores da economia”, enquanto o tucano defendeu novamente a reforma tributária, com criação de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) que substituiria outros cinco tributos.
O candidato do PDT tentou associar o tucano ao governo Michel Temer, citando o apoio do PSDB à aprovação do teto de gastos públicos. Alckmin, por sua vez, tentou colar Ciro aos governos do PT: — As contas públicas estouraram todas no tempo do PT. O resultado são 13 milhões de desempregados e total descontrole das contas públicas. (...) A PEC do teto foi uma vacina contra o PT e seus aliados.
Questionado por Henrique Meirelles (MDB) sobre seu plano para enfrentar o desemprego, Bolsonaro deu uma resposta vaga. O candidato do PSL disse que no governo Lula, quando Meirelles era presidente do Banco Central, o BNDES emprestava “para amigos do rei”, defendeu a desburocratização para a abertura de empresas e “desregulamentar muita coisa no Brasil” .
Já Alvaro Dias (Podemos) ligou os escândalos recentes de corrupção ao aumento do desemprego, porque, segundo ele, a crise “expulsou investimentos”. Sem explicar como atingiria a meta, prometeu criar 10 milhões de empregos e gerar um crescimento médio de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano.
Bolsonaro deu um passo além na sua proposta de aumentar a presença militar nas escolas: — Vamos fazer a militarização das escolas. Trazer diretores vindos
do meio militar, botar a garotada para aprender algo além de ideologia de gênero. Hoje, o professor está mais preocupado em não apanhar do que em ensinar.
Na dobradinha que mais se repetiu no debate, Ciro e Alckmin abordaram outra questão econômica: a política de juros. O pedetista fez questão de mostrar a divergência em relação ao modelo praticado nos governos do PT e do PSDB e criticou a queda no número de indústrias no país. — Proponho política de comércio exterior sem favorecimento. Faz sentido importar gasolina sendo um dos maiores produtores de petróleo?
O tucano defendeu a redução de gastos do governo como uma medida para forçar a queda dos juros e, sobre o setor de óleo e gás, defendeu a atração de investimentos externos: — A Petrobras não tem dinheiro para tudo. Precisa trazer investimento privado. Vou quebrar o monopólio do refino na prática e trazer investimento para o Brasil — afirmou Alckmin, que criticou o “corporativismo” da greve dos caminhoneiros.
SEM PÚLPITO PARA LULA
O único que citou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para dizer que ele não pode ser candidato, foi Alvaro Dias (Pode): — Não é preso político, é político preso. É uma afronta, um violência à legalidade. É a vergonha nacional essa encenação de uma candidatura. Ou respeitamos o estado democrático de direito ou desistimos da democracia
A RedeTV ! pretendia deixar uma cadeira vazia, reservada para Lula. O petista foi convidado para participar do debate porque o PT registrou sua candidatura no Tribunal Superior Eleitoral.
Bolsonaro, no entanto, pediu a retirada do púlpito reservado para Lula. O candidato do PSL procurou a direção da RedeTV! cerca de 40 minutos antes de o debate começar. Houve uma consulta aos demais candidatos. Todos votaram contra, com exceção de Guilherme Boulos (PSOL).