Segundo a Polícia Federal, a hipótese de sabotagem foi “totalmente descartada” na investigação
Entre os motivos que inviabilizaram a identificação da causa do acidente aéreo que matou o então candidato à Presidência da República Eduardo Campos está o mau funcionamento do gravador VCR. Esse equipamento, que grava vozes e sons da cabine, poderia ter apresentado pistas sobre o que ocorreu com o avião no momento do acidente. A conclusão é do delegado federal Rubens Maleiner, responsável pelo caso. Ele também descartou qualquer possibilidade de sabotagem.
Maleiner pediu o arquivamento do inquérito ante a impossibilidade em se apontar a causa do acidente. Esse resultado, no entanto, poderia ser outro, caso o gravador da cabine estivesse funcionando normalmente. Segundo os investigadores, a última gravação feita pelo equipamento foi 1 ano e 9 meses antes do acidente com o presidenciável, ocorrido em agosto de 2014, na cidade de Santos (SP).
“A ausência das gravações foi um dos problemas mais relevantes para que o inquérito não apresentasse [o real motivo do acidente]”, disse o delegado, após participar de coletiva de imprensa destinada a apresentar detalhes técnicos do inquérito.
“Esses gravadores são um dos elementos mais importantes desse tipo de investigação. Seria um auxílio significativo porque eles não gravam apenas vozes, mas também outros sons que ocorrem na cabine, como chuva no para-brisa, ruído”, explicou Maleiner. “Nessas situações de acidente, as pessoas verbalizam alguma coisa. Se tivéssemos essas gravações, o entendimento do fato seria maior”, acrescentou.
Sem sabotagem A hipótese de sabotagem foi “totalmente descartada” pela Polícia Federal. “Ouvimos todos que cuidaram da aeronave nos dias precedentes ao voo, além de termos feito investigações no Aeroporto Santos Dumont e com relação às oficinas de manutenção que lidaram com a aeronave”, argumentou o representante da PF. “Todo entendimento que tivemos da mecânica do voo é absolutamente incompatível com qualquer possibilidade de sabotagem imaginada”, destacou.
Perguntado sobre se seria possível algum tipo de “sabotagem perfeita, que não deixasse vestígios”, o delegado foi enfático: “A pergunta já se responde. Se não pode ser identificada pela polícia, nós não a conhecemos. Portanto, eu desconheço a possibilidade de uma sabotagem absolutamente indetectável”.
Quatro hipóteses Ante o problema com o gravador e outras dificuldades – como o impacto de alta intensidade, resultando em fragmentação acentuada das peças da aeronave; as características geográficas da região; e as condições climáticas no momento do acidente, com nuvens que inviabilizaram um maior número de testemunhas –, o inquérito produzido pela Polícia Federal acabou limitado a apresentar quatro hipóteses possíveis para a ocorrência acidente.
A primeira delas é a de colisão com pássaros, uma vez que foi relatado por uma testemunha a presença de muitos urubus nas proximidades do local onde ocorreu o acidente. Também foram mencionadas como hipóteses a possibilidade de disparo de compensador de profundador e a de pane com travamento de profundador em posições extremas. Esses equipamentos são peças localizadas nas asas ou na traseira das aeronaves e responsáveis por estabiliza-la e dar direção.
A quarta hipótese apresentada é a de os pilotos terem passado por alguma desorientação espacial. Esta última possibilidade foi a apontada em 2016, pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Força Aérea.
Análise da Aeronáutica De acordo com o delegado, a análise do gravador ficou exclusivamente a cargo da Aeronáutica. “Tivemos acesso apenas ao produto do gravador. Ou seja, às transcrições das gravações, porque quem dispõe da tecnologia para degravar, ler e traduzir para arquivo de texto ou de áudio o conteúdo da memória do gravador é o Cenipa”, disse Maleiner.
Segundo ele, esse tipo de falha não é comum no equipamento, e foram trabalhadas duas hipóteses sobre para seu mau funcionamento. “Ou o aparelho sofreu algum tipo de pane de energização, ou seja, a alimentação do aparelho falhou em algum momento e não foi corrigida; ou apresentou algum tipo de problema que não foi sequer previsto pelo fabricante. Coisas da eletrônica, sabe”, ressaltou.
“Mas isso não levanta qualquer suspeita porque não tinha como, há 1 ano e 9 meses antes [do desastre], alguém suspeitar que esse avião iria transportar essas pessoas”, acrescentou.