Documento só pode ser emitido à distância se o usuário tiver uma carteira com QR Code e um certificado digital
Esquecer a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em casa não é mais uma preocupação para o motorista George Abbas, de 36 anos, do Rio de Janeiro. Ele fez a versão digital do documento há cerca de um mês. “Facilita a vida. Se perder o celular, tenho a de papel. Se perder a de papel, tenho a digital”, diz.
Mas Abbas é uma exceção dentro do cenário nacional, no qual apenas 0,36% dos motoristas têm a CNH digital, o que corresponde a 247,6 mil pessoas. A nova versão do documento passou a ser emitida progressivamente desde outubro. E desde o começo do mês, é disponibilizada em todos os Departamentos Estaduais de Trânsito (Detrans) do país.
Entre as 27 unidades federativas do país, São Paulo é a que mais emitiu CNHs digitais, com um total de 49.955 unidades. No Estado, a emissão começou em março. Mas, proporcionalmente, São Paulo fica em 21º no quadro nacional, pois a cobertura é de apenas 0,22% do total de motoristas. Os primeiros colocados são Goiás e Rio Grande do Sul, nos quais, respectivamente, 1,13% e 1,03% das CNHs têm versão digital.
Falta de informação Um dos motivos para a baixa adesão é que o documento só pode ser emitido à distância se o motorista tiver uma CNH com QR Code e também um certificado digital, que é pago. O custo desse documento costuma ser de R$ 100. Quem ainda tem a versão antiga da habilitação, deve pedir uma segunda via impressa, para ter uma CNH com o QR Code (não é preciso esperar a CNH vencer para solicitar a segunda via do documento). Depois, é preciso fazer um cadastro no site do Detran e ir a uma unidade do departamento de trânsito para confirmar os dados.
As exigências para obter o documento digital também são criticadas por usuários nas plataformas de download. No Google Play (para Android), o app CNH Digital é avaliado com nota 2,7, não muito diferente da 2,3, apontada por usuários do iTunes. Até 29 de junho, foram mais de 2 milhões de downloads, número 800% maior que o de usuários que efetivamente fizeram a carteira.
Nas plataformas, é frequente a falta de informação sobre a necessidade de ter um certificado digital ou de comparecer ao Detran. Há, também, relatos de dificuldades para instalar e manipular o aplicativo. “A avaliação do aplicativo pode estar associada à impossibilidade do usuário, que ainda não tem a CNH em papel com QR Code”, justificou o Serviço Federal de Processamento de Dados, responsável pelo aplicativo, por meio de nota. Segundo o Serpro, uma versão 2.0 do CNH Digital será lançada no segundo semestre e vai contemplar também a documentação do veículo.
Documento O estudante de Direito Afonso Rennó, de 25 anos, fez a carteira digital um mês após renovar a licença para dirigir. Ele ainda carrega a versão impressa. “Ainda não pediram (a carteira), não sei como vai ser. Levo (a impressa) junto dos documentos do carro.”
A CNH Digital é reconhecida pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pode ser aceita como documento oficial no momento do embarque de voos domésticos. A carteira já é aceita pelas maiores companhias do país, como Latam, Gol, Avianca, Passaredo e Azul.
Dentre as locadoras de carros contatadas pela reportagem, a Movida e a Localiza afirmaram aceitar a CNH Digital, enquanto a Localiza exige a versão impressa. Além disso, a Polícia Militar de São Paulo já aceita a versão digital nas ocasiões em que exige a apresentação da CNH.