De acordo com Claire Wardle, militantes de direita querem influenciar no pleito brasileiro como tentaram na França
A pesquisadora da Universidade Harvard Claire Wardle trouxe um alerta para a propagação de fake news – notícias falsas – produzidas por extremistas norte-americanos com o objetivo influenciar as eleições presidenciais brasileiras de 2018.
Segundo a pesquisadora, que também dirige o First Draft, centro de estudos jornalísticos ligado ao Shorenstein Center, da mesma Universidade, o movimento repete expediente supostamente usado nas eleições francesas de 2017. Na época, esses grupos teriam tentado influenciar nas eleições francesas a favor da candidata Marine Le Pen – igualmente posicionada na extrema direita.
“Há muita evidência agora de que a extrema direita norte-americana esteja dando apoio ao Bolsonaro, criando memes e tentando influenciar as coisas. Vocês deveriam estar de olho no que acontece nos Estados Unidos porque, do nosso lado, já estamos vendo isso acontecer”, disse durante apresentação realizada no 13º Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, realizado em São Paulo, do qual o LIVRE participou.
Na ocasião, Claire lançou junto a outros 24 meios comunicação o projeto Comprova, que visa a identificar e desmentir notícias falsas durante as eleições deste ano.
Como evidência desse suposto auxílio de grupos extremistas à candidatura de Bolsonaro, Claire citou uma publicação recente do site de extrema direita Daily Stormer, que leva o seguinte título: Brazil: White Far Right Meme Master Leading Presidential Polls (Brasil: Mestre de Memes Branco da Extrema Direita Lidera Pesquisas Presidenciais).
Na publicação há memes com Bolsonaro, criados e ornados com frases em inglês – destoando do que se esperaria de uma publicação brasileira. A publicação termina com a frase “Make Brazil White Again”, ou “Faça o Brasil branco novamente”, em apoio ao pré-candidato do PSL.
Claire lembrou que, durante a eleição de Emmanuel Macron na França de 2017, grupos de extrema direita norte-americana usavam memes com traduções precárias do inglês para o francês, com o objetivo de dar suporte à campanha de Marine Le Pen. Nesse caso, a tentativa falhou, já que Macron se elegeu.
“Depois de criar esses memes, essas pessoas marcavam ações conjuntas e coordenadas nas redes sociais para espalhar notícias falsas e memes contra Macron, ganhando destaque nessas redes”, disse.
Origem
De acordo com a pesquisadora de Harvard Claire, os produtores de informações distorcidas têm motivações distintas. Entre elas há questões políticas, ingerência em outros países, questões sociológicas e também psicológicas.
“Parte da razão das fake news é financeira. Há pessoas ganhando dinheiro com esse expediente. Parte é politica e parte é para mudar os rumos de países”, destacou.
“Mas muito também é psicológico. Garotos nos seus quartos tentando causar problemas. Parte também é sociológico. As pessoas vão se conectar com pessoas que são como elas”, concluiu.