Há quem afirme que a proposta é uma possibilidade para “abrir a porta para a violação de direitos fundamentais”. Representantes do Exército, da Safernet e da Polícia Federal também teriam sido contra
Ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) criticaram, de forma velada, a proposta da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de monitorar usuários da internet de forma preventiva.
Conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo na sexta-feira (8), a ideia gerou polêmica no grupo consultivo do TSE responsável por debater o combate à disseminação de notícias falsas nas eleições. Os ministros preferiram falar em caráter reservado, já que as discussões estão sendo comandadas pelo presidente da Corte Eleitoral, ministro Luiz Fux.
A sugestão da Abin permitiria, sob o argumento de combater a disseminação de notícias falsas, o monitoramento das ações de usuários brasileiros na internet sem prévia autorização da Justiça. A proposição da Abin prevê o monitoramento amplo e abrangente dos metadados, que registram a atividade dos internautas na web, provenientes de plataformas de mídias sociais e provedores de internet.
Para um ministro do TSE, não há "varinha de condão" para tratar de um tema delicado como as fake news. Esse magistrado considera um "perigo" a proposta da Abin, e ainda avalia que é impossível controlar os internautas. O juiz vê na sugestão da agência a possibilidade de se "abrir porta para a violação de direitos fundamentais".
Um segundo ministro ouvido pelo jornal desaprova a proposta da Abin e diz acreditar que há outros instrumentos mais eficazes para combater a disseminação de notícias falsas, como o esclarecimento da população e a atuação livre da imprensa para fiscalizar.
Já um terceiro integrante do TSE disse à reportagem não ter qualquer restrição ou preconceito contra qualquer agência de inteligência ou de informação, mas atuar sem autorização judicial é "um pouco demais".
Alternativas
O Estado de S. Paulo apurou que alguns integrantes do conselho foram contrários à proposta da Abin discutida em reunião na semana passada porque ela violaria as garantias legais estabelecidas pelo Marco Civil da Internet e previstas nos princípios do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Teriam sido contra os representantes do Exército, da Safernet e da Polícia Federal. Na reunião, ficou decidido que os conselheiros estudariam alternativas que não violem as garantias e as liberdades individuais.
Procurada pela reportagem, a Abin informou que "ratifica o posicionamento de que o acompanhamento feito pela Inteligência sobre qualquer tema, inclusive os ligados a questões eleitorais, subordina-se aos preceitos constitucionais, à Política Nacional de Inteligência (PNI) e à Estratégia Nacional de Inteligência (Enint)".