"DIÁLOGO COM O SETOR É O MAIS CORRETO"
Mesmo com o caos (tanto no social quanto nos negócios), presidente da Câmara afirma que o emprego das forças armadas não é o melhor caminho para resolver a greve dos caminhoneiros
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou nesta sexta-feira, 25, a decisão do presidente Michel Temerde usar as Forças Armadas para desobstruir as estradas bloqueadas pelos caminhoneiros, que protestam contra o alto preço dos combustíveis. O problema já afeta vários setores da economia - muitos pequenos negócios, por exemplo, sofrem com a falta de alimentos para vender.
O governo convocou as forças armadas porque os protestos provocaram desabastecimento nos postos de gasolina, paralisação de exportações de pequenas e grandes empresas e problemas de falta de gasolina para várias companhias aéreas. As linhas de ônibus também foram reduzidas pelo país, os Correios suspenderam postagens (o que afetou milhares de e-commerce). Além disso, a produção em ao menos 129 frigoríficos e abatedouros foi paralisada e houve falta de hortifrutigranjeiros para o varejo e feiras.
Em entrevista à imprensa, Maia disse que a continuidade da manifestação do setor (composto majoritariamente por pequenos e médios negócios), mesmo após acordo com o governo, é resultado da falta de credibilidade das palavras de Temer. Para ele, os donos de caminhões (autônomos que trabalham como microeempreendedores) não acreditaram nas palavras do governo e decidiram manter a paralisação, mesmo após o acordo fechado com alguns representantes da classe.
O governo, nesta tarde, se defendeu. Ele acredita que a rebelião pode estar sendo causada por um grupo de donos de empresas que estariam promovendo um locaute (que é quando os patrões de um determinado setor se recusam a ceder aos trabalhadores os instrumentos para que eles desenvolvam seu trabalho, impedindo-os de exercer a atividade. Ou seja, agindo em razão dos próprios interesses, e não das reivindicações dos trabalhadores).
O governo, inclusive, afirmou ter uma relação com nomes de 20 empresários que foram chamados a depor pela Polícia Federal por suspeita de contribuir, incentivar ou orientar a realização da greve de seus funcionários. Ele ressaltou que locaute é crime e que a Polícia Federal está investigando "quem está tirando proveito (da greve) com fins econômicos".
Críticas ao governo
Apesar do discurso governista, Maia atacou a decisão da presidência.
"O (uso do) Exército é desnecessário. (...) A utilização das Forças Armadas não parece o passo correto neste momento. Os manifestantes estão dialogando. Uma parte ontem (quinta-feira) deixou claro que o acordo que vinha sendo feito não ia impactar a ponta, e foi o que aconteceu", afirmou.
"Então, acho que tem que tomar cuidado. Desobstruir a estrada é uma coisa, usar as Forças Armadas é outra. As Forças Armadas têm que ocupar outro papel nessa história", emendou.
"Quando a sociedade é atingida, as empresas são atingidas, os hospitais são atingidos, as escolas são atingidas, não é bom. Bom é que, através do diálogo, através da credibilidade da palavra de cada um de nós, se consiga avançar", acrescentou.
Maia fez duras críticas ao governo em geral. Para ele, o País vive atualmente a "crise mais profunda da nossa história".
"O Brasil sai da recessão no governo do presidente Michel Temer, mas, do ponto de vista da melhoria da qualidade de vida das famílias, não aconteceu nada. Porque todas as empresas estão com muita capacidade ociosa, não tem ninguém gerando novos empregos e principalmente empregos de qualidade, melhorando a renda do trabalhador", disparou.